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LIÇÃO DE MORAL PARA LULA...
Por Adelson Elias Vasconcellos.
Senhores, a notícia: “O presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou de um evento de campanha na Cidade de Deus, na zona oeste do Rio, em que crianças beneficiárias de programas federais subiram ao palanque para dar depoimentos e pedir votos para sua reeleição. Oriundos de São Paulo, Belo Horizonte e Rio, os jovens – participantes dos programas Segundo Tempo, ProJovem e Pró-Índio – foram levados ao evento pela Central Única das Favelas (Cufa).
A Central Única das Favelas (Cufa), que organizou o evento na Cidade de Deus no qual jovens beneficiários de programas sociais do governo federal pediram votos para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não se responsabilizou pela presença dos adolescentes, vindos de São Paulo, Belo Horizonte, e de diferentes regiões do Rio.
"Não foi a Cufa quem os trouxe, mas o Secretário Nacional de Juventude do governo, Beto Cury. Nós só garantimos o espaço, como iremos garantir aos demais candidatos que aceitarem nosso convite", afirmou neste domingo ao Estado Celso Athayde, um dos coordenadores da entidade.”
Queiram, por favor, observar atentamente a foto acima. As informações derivadas do PT, do Governo Federal e da tal Secretaria Nacional de Juventude, fala de “adolescentes”. Impossível. Ali não estavam apenas “adolescentes”, mas crianças também. E daí a minha revolta, a minha repugnância. A que ponto a decadência moral de um cidadão é capaz de chegar (ou descer), por causa de alguns míseros votos ! Utilizar-se de maneira tão covarde de crianças ! Crianças, que dizem, terem sido beneficiadas por programas governamentais, e que agora, precisam pagar o pedágio da esmola que lhes foi proporcionada ! Vil ? Degradante ? Imoral ?
Sim, tudo isso sem dúvida se encaixa perfeitamente bem na palhaçada patrocinada pelo candidato Lula. Não importa nem se é legal ou não, porque afinal de contas neste país, e mesmo nestas eleições, o que não faltam são imoralidades “legalizadas”. E os pais destes meninos e meninas sabiam a que propósito se utilizariam de forma vergonhosa seus filhos ? Ou foram cooptados pelos mensalinhos do Bolsa Família ? Que direito moral e ético tem um camarada eleito para presidência da república valer-se da miséria de seu povo em nome de sua perpetuação no poder ? NENHUM. Não lhe compete, na função que exerce, aproveitar-se para a exploração e o uso indecente de meninos e meninas, crianças ainda, para sobre elas praticar a chantagem emocional perante o eleitorado, muito menos quando para isso valeu-se da forma mais sórdida para exibir seu poder. Será que a nenhum dos organizadores ocorreu-lhes lerem ao menos o Estatuto da Criança e do Adolescente ? Será que tamanha leviandade e imoralidade é prevista e autorizada por juizados de menores ?
Reafirmamos que não nos interessa se a legislação eleitoral permite esta indecência ou não. Santos Deus, será que a sede de poder político que deveria ser uma missão a que se deveria honrar e reverenciar, está acima de qualquer escrúpulo ? Uma atitude carregada de obscenidade como que a que se viu na Cidade de Deus poderia por Deus ser abençoada? Por certo que não. Ao enlamear o cargo que ostenta, o cidadão Lula quebrou todos os limites da decência, do respeito, da moral. Não há Berzoini, nem Dilma, nem Tarso Genro que consigam, com suas explicações oficialescas, justificar tanta desfaçatez ! Ninguém de juízo perfeito, que tenha honra e caráter neste país olhará para ação do senhor Lula com olhares tão indignados quanto os meus. Ninguém que tenha um pingo de decência deixará de se manifestar pela ação abusiva e covarde porque perpetrada com crianças, ou deixará de considerar a repulsividade que tamanha ação indecorosa provoca em quem carrega em sua consciência os princípios e valores básicos do chamado cidadão de bem!
Já não nos bastassem tanta ignomínia patrocinada pelos políticos de todas as cores, partidos e quadrantes do Brasil, se já não nos fosse vergonhosa a abusividade com que Lula utiliza-se da máquina pública e dos recursos públicos para comprar e calar consciências e garantir votinhos, sob o beneplácito da ficcional justiça eleitoral, e ainda somos obrigados assistir a sua pusilanimidade para valer-se de crianças que se beneficiaram de programas de governo. Melhor seria que nada houvesse feito, do que depois valer-se do benefício para cobrar em troca o seu voto sob as bênçãos de artistas e entidades que se dizem “preocupadas” com o flagelo social do país !
Santos Deus, como a cegueira moral de tantos pode ser acumpliciada em favor de um ex-operário ! Como o imoral e abusivo uso do poder econômico se impõe e se infere na dignidades das pessoas de maneira tão sórdida, tão mesquinha, tão torpe ! Como estas pessoas poderão encarar-se a si mesmas, a sociedade, a seus próprios filhos! Será que não lhes passa na cabeça, por um pequeno momento que fosse, a imoralidade de que o evento se revestiu a partir do instante em que se utilizou crianças “beneficiadas” por programas sociais custeados com dinheiro público ? Quem, afinal, dos programas acabou se beneficiando, as crianças a quem se disse que o programa se destinava, ou a mão sorrateira que lhe estendeu o benefício e, em troca, cobrou o pedágio para alguns votinhos ? Então, que não se mentisse na propaganda dizendo que se destinavam às crianças, porque a bem da verdade o programa focava apenas a marmanjos.
Senhores, definitivamente, não é assim que deve fazer política assistencial. Não é desta maneira vexatória que se deve promover o bem estar social. Quantos há neste mundo de meu Deus que praticam e promovem o bem estar social e o amparo aos mais necessitados sem nada lhes pedir em troca ! Quantos há que o fazem com o verdadeiro e legítimo espírito cristão, quantos há que preferem agir no anonimato, porque o bem maior nem é do que quem recebe, mas sim o de quem pratica !
Não, senhor Luiz Inácio da Silva, o senhor não tinha o direito de extrapolar os limites da conduta que o cargo lhe impõem para auto promover-se em cima da miséria e das necessidades das pessoas, muito mais ainda se elas são crianças pobres, que sequer sabem defender-se, e que deveriam ter por paradigma moral, além dos seus próprios pais, aquele que encarna a representatividade maior de uma sociedade que se deseja moralmente sadia.
Seu governo, mesmo que tivesse cumprido com tudo aquilo a que se comprometeu na campanha de 2002 – e não o fez, muito pelo contrário – ao utilizar-se de crianças, carregadas como produtos para venda, trazidos como animais de barganha política de outros lugares, acredite-me, perdeu toda a sua legitimidade moral ! Desceu a alcova mais pútrida que poderia de forma obscena, covarde e degradante.
Já nem mais se dirá de mensalões, que mesmo que vossa senhoria negue, sabe-se perfeitamente bem que foi o expediente criminoso de aliciar vontades e garantir votos. Já nem falará mais da política indecente de se utilizar de programas implantados em governos anteriores, mudar-lhes simplesmente os nomes, e vendê-los pela publicidade como se seus fossem – e não são. Seu Bolsa Família é arremedo do que já existia. Seu Luz para Todos é arremedo do que já existia e estava em implantação. Seu FUNDEB sequer precisaria ter sido inventado nas alcovas dos palácios de Brasília, bastava dar seguimento e aperfeiçoar o que já existia. Sua tão propalada Reforma Agrária bandeira agitada por 25 anos, hoje se vê não passar de terrorismo rural sob o subsídios de verbas públicas. Seu tão propalado programa de bio-combustíveis é uma mentira pérfida de um programa existente e desenvolvido desde a década de 70 por Hernani de Sá, e que em 2002, Fernando Henrique o transformou em programa federal para receber o apoio indispensável para sua realização e implantação. Seu programa econômico está levando à falência dezenas de fábricas e empresas, destruindo nossa agropecuária, fechando empregos, e aumentando despudoradamente o cordão de miséria existente no país. E os investimentos em atividade produtiva são apenas 50% do que o país conseguiu obter em meio à cinco crises internacionais. E sabe por quê? Por causa da perda de credibilidade na capacidade de seu governo de promover o progresso que o país precisa para sair do atoleiro em que se encontra, da estagnação que já se mantém há tantos anos, e da desaceleração que já se observa em tantas atividades econômicas.
E mesmo que este dantesco quadro desaparecesse por um simples passe de mágica, sua festinha de dia das crianças foi imoral. Foi degradante. O senhor humilhou, pela cobrança da esmola dada, aqueles que se dizias delas serem seus destinatários: absolutamente, eles foram os meios utilizados para a compra de votos, de consciências e a maneira torpe de sufocar nossa indignação por assistir, como nunca antes se assistiu neste país, o império da degeneração moral da vida pública.
Com o uso do poder econômico se poderá calar vozes, consciências e protestos. Se poderá até manter-se o poder judiciário à distância. Se poderá até receber aplausos daqueles necessitados usados de forma sórdida no palanque armado na Cidade que deveria ser de Deus. Porém, deste circo de horrores, esteja certo, senhor presidente, haverá alguém com noção exata do que seja moralidade, que mesmo que hoje não proteste, por ser cliente dos programas ditos sociais, mas que, interiormente, além da humilhação que carregará, levará consigo a indignação de ter utilizado para marketing eleitoreiro.
Não me interessam que providências legais possam ser tomadas. Tampouco estou me importando que elenco de crimes ali se praticou, porque à luz da justiça humana irracional que vigora entre nós, muito poderá ser acobertado para o insaciável desejo de impunidade existente na classe política brasileira. Dali extrai-se apenas a essência moral que foi quebrada. E é isto que importa mais.
Muito embora o senhor seja filho de mãe analfabeta, honrada e limpa, por certo não lhe deve ter aprendido convenientemente todas as lições ele na sua simplicidade tentou lhe transmitir. E esteja certo, que de onde ela estiver, estará em prantos mandando seu recado maternal : “É feio, meu filho, humilhar o pobre, é indigno utilizar crianças abençoadas por Deus para a satisfação dos apetites políticos da tua ambição. Sua mãe hoje está triste, viu, não faça mais isto. Seja um homem honrado, mesmo que pobre, mas seja honrado e direito.”
Pense nisto, senhor presidente, na próxima vez que desejar falar de lição de moral para alguém. Pense muito bem nisto.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/06/2006 03:47:00 AM      |