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A MORTE DO PAÍS DO FUTURO
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
O Brasil país do futuro parece ter existido apenas no livro de Stefan Zweig - que, aliás, o teria escrito a soldo do ditador da vez, Getúlio Vargas. Porque estamos abdicando do nosso compromisso com o crescimento e com as futuras gerações em nome de uma suposta estabilidade econômica. Um preço alto demais, se levarmos em consideração que matar a fome agora não representará erradicá-la em nome de um projeto que insira todas as classes sociais.
Contingenciar recursos para as pesquisas, como fez o governo Lula, para realizar superávit primário, é armar uma bomba para daqui a algumas décadas. Ir liberado algo em torno de R$ 3,2 bilhões até 2010 é algo que somente uma administração sem visão alguma de longo prazo conseguiria fazer. O futuro está justamente nos estudos que investimos agora: se quisermos um dia fazer frente à tecnologia que têm Índia e China, devemos aplicar recursos maciçamente em educação e pesquisa.
O Brasil é um grande exportador de produtos de baixo valor agregado. Os projetos de ponta que desenvolvemos aqui não nos pertencem: na informática, na química fina, na física, na medicina, pagamos por direitos que são de alguém. Que chegou a tais resultados na maior parte das vezes utilizando matérias-primas ou vendidas por nós mesmos ou contrabandeadas. Os cérebros brasileiros estão lá fora e não nos aproveitamos sequer da explosão da Cortina de Ferro, quando professores, técnicos e cientistas sobravam no mercado.
Muitos deles prefeririam vir para as nossas despojadas e ensolaradas universidades do que seguir para a Inglaterra, a França, a Alemanha ou permanecerem na Rússia. E poucos para se tornarem chefes de pesquisas, diretores de cátedra: a maior parte para agir como coadjuvante num mundo que os remunera bem, mas não os projeta. Nesse ponto, o Brasil é um solo intocado a ser desenvolvido.
Mas falar em educação no Brasil é incorrer em pecado capital. Programas como Bolsa-Escola ou Bolsa-Família já seriam superados se houvesse investimento pesado em educação e saúde. Aliás, não apenas os projetos assistenciais, mas inclusive o flagelo do crime. É justamente a falta de escolas de qualidade, do fundamental à universidade, que faz com que estejamos perdendo levas de professores, técnicos ou pesquisadores para o tráfico de drogas ou para o roubo de veículos. Quem dá mais sorte acaba na seleção brasileira de
futebol.
São cada vez menores e mais restritos os núcleos de excelência no País. Pouco tempo atrás, o Instituto de Matemática Pura e Aplicada (Impa) gritava por socorro: caindo aos pedaços, com dificuldades de sobrevivência que se potencializam governo sai, governo entra, vemos o resultado disto nas Olimpíadas internacionais de Matemática. Nelas, nossos esforçados representantes sentem na carne o resultado do descaso com a educação e, por conseqüência, a pesquisa.
Mas estou malhando em ferro frio. Que os homens que cercam o
presidente Lula sejam figuras de poucas luzes nem surpreende, mas é impossível que uma técnica gabaritada como a ministra Dilma Rousseff, da Casa Civil, não saiba disso. Nem é razoável acreditar que a obsessão de fazer superávit primário sepultando o futuro do Brasil não seja tema de debates acalorados no Palácio do Planalto. Mas se a cegueira tiver chegado ao ponto de tudo isto ser desconsiderado, chegou a hora de trocar de timoneiro. Por mais que ele tenha acabado de assumir o comando do barco.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/05/2006 08:26:00 AM      |