Por Adelson Elias Vasconcellos em Comentando a Notícia Nestes bicudos tempos de mensaleiros, sanguessugas, cofres cuequinha ou cuecões, quando se pensa que nossos ilustres representantes já esgotaram seus estoques de safadezas, trambiques e maluquices, somos surpreendidos: a criatividade deles é ilimitada. O excelente Ralph J. Hofmann, escreveu um artigo sob o título FEBEAPÁ (Festival de Besteiras que Assola o País), através do qual fomos apresentados ao Projeto de Lei Complementar 137/04, do deputado Nazareno Fonteles (PT-PI), ou como o projeto se auto- intitula, “Poupança Fraterna”. Você, caro leitor, por acaso já ouviu falar de alguma coisa mais ou menos parecida como “Poupança Fraterna”? Não? Então você não sabe o que está perdendo. Trata-se de uma jóia rara. Digno de figurar no Guiness Book como a maior excrescência de todos os tempos. Quando a gente pensa que um cara desses goza de um mandato parlamentar, é de se perguntar: que país de malucos é este Brasil ? Porque só na cabeça de um maluco se poderia criar tamanha esquisitice. Realmente, a classe política brasileira tem verdadeira adoração por sandices.
Pelo projeto do “santo”, todos os brasileiros e brasileiras, durante sete anos, terão um limite máximo de consumo mensal para cada pessoa utilizar para seu sustento e de seus dependentes residentes no País (lá fora tá liberado, ainda bem!) . Este limite será calculado de acordo com a renda per capita nacional mensal calculada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o IBGE, em 2003, a renda per capita anual era R$ 8.565, o que significa cerca de R$ 713 ao mês. Legal não é mesmo ? Ou seja, todos, sem exceção, terão de se contentar durante sete anos, a viverem dignamente com R$ 713,00 por mês, para sustentar a si e a sua família. Piada ? Não, é maluquice mesmo . Aí você se pergunta, e quem ganhar mais do que isto ? E é aí que nasce, sem seu consentimento, independente de necessitar ou não, a Poupança Fraterna. Pelo projeto, a parcela dos rendimentos que exceder o limite de consumo, será depositada, a título de empréstimo compulsório, em uma conta especial de caderneta de poupança, em nome do depositante, denominada Poupança Fraterna. Mais digna é a justificativa do projeto. O objetivo segundo o autor, "...é fortalecer os valores humanísticos de fraternidade, liberdade e igualdade, que facilitarão e possibilitarão a todos os brasileiros acesso aos bens essenciais". Na avaliação de Fonteles, a proposta promoverá também a inclusão social e econômica da parcela da população que hoje possui baixa capacidade de consumo. "A fome em que vivem milhões de seres humanos deve-se à má distribuição da renda e da riqueza, e não à escassez de alimentos", defende o deputado. Ah, se você ler dez vezes a justificativa e não conseguir entender o que ele quer dizer com “...fortalecer os valores humanísticos de fraternidade, liberdade e igualdade, que facilitarão e possibilitarão a todos os brasileiros acesso aos bens essenciais” , não se preocupe, o maluco não é você, é a anta que produziu esta pérola. O projeto estabelece que os depósitos da “poupança fraterna” poderão ser feitos no Banco do Brasil ou na Caixa Econômica Federal, a critério do titular da conta. A proposta também prevê a livre movimentação dos recursos pelo titular entre as duas instituições financeiras. Os recursos aplicados serão remunerados com juros equivalentes à 50% dos depósitos efetuados em caderneta de poupança. Não é uma belezura, você ainda tem o “direito” de escolher ou Caixa Econômica Federal ou Banco do Brasil, claro, porque o deputado talvez não queira ferir seus direitos de rasgar dinheiro ou de por fogo nele. Ele te dá liberdade de escolher, ou até de ficar brincando com ele, transferindo ora para uma ou para outra instituição financeira. Você se sentirá um verdadeiro banqueiro. E a cereja final do belo bolo do deputado vem agora (o quê! você pensa que a doideira do moço é uma história só de começo e meio, nada disso, tem um apoteótico final). É a devolução. Sim, porque o projeto do deputado é não para ficar eternamente com seu dinheiro. Como você é perdulário compulsivo, ele promete aplicar e guardar seu dinheiro por ..... apenas 14 anos. Os recursos aplicados serão devolvidos aos poupadores ou seus herdeiros nos 14 anos seguintes ao término do prazo de poupança, em prestações mensais equivalentes à metade de cada um dos depósitos realizados. Mas daí você pergunta: durante todo este tempo não vou poder mexer no meu dinheiro ? Qual é, meu irmão, o deputado é cabeça boa, bom coração, tem sentimentos, ele pensa no dia de amanhã, por isso o projeto da Poupança Fraterna prevê exceções para devolução antecipada.Nas seguintes hipóteses de saques extraordinários dos valores depositados: 1. morte do titular; 2. aquisição de casa própria para fins de residência permanente, limitado a R$ 200 mil; e 3. tratamento de doença grave do titular, do cônjuge ou dependentes diretos; Que tal, você já imaginou no raio de sua vida se deparar com tamanha preocupação social para com o salário que você ganha ? O deputado sim, por isso, ele recolherá para você tudo o que exceder em seu salário o valor mensal de R$ 713,00, e vai aplica-lo. Claro que existirá uma carência, porque, pombas, não sejamos exigentes, dinheiro aplicado precisa de tempo para render. Por isso, a inteligência dele fez os cálculos e previu que o dinheiro precisará de uma carência de 7 anos, para ser devolvido para o titular. E para evitar que você tenha um surto de consumismo, ele pensou: “Não dá para devolver tudo de uma só vez, o povo vai voltar a gastar muito”. Assim, para cada R$ 100,00 mensais depositados no Poupança Fraterna, ele promete começar a devolver R$ 50,00 devidamente acrescidos de juros equivalentes a 50% da poupança comum. Ou seja, se implantado hoje, suponha que você ganha R$ 813,00 mensais. Assim, você depositará R$ 100,00 na sua conta de poupança, em seu nome, e voltará a receber metade deste valor daqui a 14 anos. Como você ficou 7 anos depositando, mais 7 anos de carência, você levará outros quatorze anos para receber sua última parcela do Poupança Fraterna. Não é lindo ! Não é magnânimo este deputado ! Deste modo, pelo seu “belo” projeto ele terá resolvido todos os males do país. Primeiro, porque conseguirá acabar com a dor do desemprego. Como todos deixarão de consumir, não teremos mais empregos. Fecharão todas as fábricas, lojas, mercados, bancos (banqueiro ganha muito), serviços. Seremos todos solidários na miséria. Ah, voltaremos a ter o saudável hábito de andar de bicicleta (velha é claro, a fábrica fechou, não dá comprar nova), ou uso do jumento, carroças, ou a pé mesmo. Mas ele terá acabado com a especulação financeira. Como levaremos 28 anos para reaver nosso dinheiro, até a Previdência Privada não terá mais déficit. Ninguém mais precisará se aposentar. Estaremos todos mortos, inclusive a viúva e os herdeiros. Agora, respondam sinceramente, o deputado Fontelle é ou não um cara com visão social ? Pois é, em pleno século 21, ainda temos um jumento destes com assento no Congresso Nacional. E depois não querem que o País viva em crise ! E sabe o que pode ser pior do que isso ? Como o Congresso começou a “analisar” o “extraordinário” projeto do Deputado Fontelle, corremos o risco dele aprovado !!!!!!!!!!!
Editado por Giulio Sanmartini às 8/11/2006 02:17:00 AM |
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