Por José Inácio Werneck em Direto da Redação George Bush, o homem que nos deu a desnecessária carnificina no Iraque e cuja política internacional, da Coréia do Norte ao Irã e ao Líbano, encontra-se em frangalhos; o homem que, aliado à indústria petrolífera, ameaça as futuras gerações ao negar a existência do aquecimento global, exala agora santimônia ao declarar que vai vetar o projeto de lei sobre pesquisa em células-troncos. Sua explicação é de que “é preciso respeitar a vida”, mas, como em tudo o que ele faz, há um forte apelo à direita religiosa, que vem lhe garantindo um resquício de popularidade, mesmo à custa de um confronto com a maioria dos senadores republicanos. A alegação de que “é preciso respeitar a vida” é de colossal hipocrisia . Fingindo, como sempre, que defende os contribuintes, enquanto mergulha o país em imenso déficit, Bush afirmou em nota oficial que “o projeto de lei obrigaria todos os contribuintes americanos a financiar pesquisas baseadas na destruição intencional de embriões humanos”. Trata-se de uma mentira, pois o projeto, que ele agora ameaça vetar, pretende apenas utilizar para pesquisas embriões doados para fertilização “in vitro” e que serão de qualquer maneira destruídos, por terem sido rejeitados. Há cerca de 400 mil embriões nesta condição e seriam aproveitados para pesquisa tão somente aqueles que tivessem consentimento por escrito de seus doadores. O projeto foi aprovado por 63 votos a 37, com uma sólida maioria, mas será quase impossível obter os dois terços necessários para derrubar um veto de Bush. A pesquisa em células-tronco poderá permitir uma cura para inegáveis flagelos da humanidade, como o mal de Parkinson, a doença de Alzheimer, a diabete, possibilitar um melhor entendimento do autismo. Agora é quase certo que o projeto sucumba com o veto de Bush e, mesmo que ele não cumpra a promessa de vetá-lo, a medida aprovada pelo Senado tem suas limitações. A legislação não criaria um aumento de fundos para as pesquisas (ao contrário do que Bush afirma). Permitiria apenas que os pesquisadores aplicassem as verbas de que já dispõem de uma maneira mais ampla. No momento, por causa de legislação incentivada pelo próprio Bush, os pesquisadores só podem usar algumas poucas colônias de células-troncos que já existiam antes do dia nove de agosto de 2001. Graças a Deus (que ele lista entre seus conselheiros), George Bush caminha rapidamente para se tornar, nos próximos meses, um “pato-manco”, como aqui se chamam os presidentes em seus dois últimos anos de mandato, quando não podem ser candidatos à reeleição e acompanham, quase inermes, a longa disputa das primárias. Não custa lembrar que Bush também incentiva o ensino do criacionismo, negando a Evolução das Espécies. Como na canção de Chico Buarque de Holanda, o eleitorado americano hoje leva pedras como penitentes, mas o medievalismo de Bush vai passar.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/20/2006 01:12:00 PM |
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