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TRISTEMENTE CÉLEBRES
Por José Inácio Werneck na ESPN - Brasil
Tristemente célebres. O aviso estava na parede, em letras garrafais. O tempo passou na janela, mas Parreira não viu.
Bristol (EUA) – De volta da Europa, creio que devo refletir uma vez mais sobre a Copa do Mundo, que assisti em parte na Inglaterra e em parte na França.
Minha crônica com o título “Les Héros Sont Fatigués”, escrita dia 20 de junho, ao embarcar para Londres, ainda antes da partida com o Japão, e uma outra, na véspera, para a Gazeta Esportiva, chamada “Pesadão e Geriátrico”, me valeram um número recorde de e-mails de leitores. Fora o proverbial e-mail de protesto da Assessoria de Imprensa de um ou dois jogadores, todos os demais concordaram com meu pessimismo em relação à Seleção Brasileira. O fato em si é notável, por mostrar que leitores e assinantes não se deixaram iludir com a euforia e a gigantesca campanha publicitária desfechadas em torno de nosso time.
Como na história bíblica do filho de Nabucodonozor, fora escrito na parede “os teus dias estão contados”, mas Carlos Alberto Parreira não entendeu. A Seleção estava atrás de uma blindagem que, por um lado, não permitia a saída de notícias, e, por outro, tornava seus responsáveis cegos aos apelos da razão.
Otimista, assumindo o favoritismo e prometendo um “jogo bonito”, Parreira escalou seus 11 titulares no dia da convocação, numa tentativa de repetir o famoso episódio com João Saldanha em 4 de fevereiro de 1969. Mas Saldanha escalara 11 feras, que viviam sob a exortação de Neném Prancha de que era preciso ir na bola como quem vai num prato de comida. Parreira escalou 11 celebridades internacionais, cercadas de poderosos patrocinadores e com apetite para uma ou outra pequena vaidade pessoal, como a de disputar o maior número de jogos, chegar ao maior número de finais ou marcar o maior número de gols. A partir daí é fácil elaborar a “lógica” de que determinado cidadão precisa jogar para emagrecer, em vez de emagrecer para jogar. Quem quiser entender a origem dos problemas de joelho e de peso de Ronaldo Fenômeno tem que pesquisar o que se passou com ele quando chegou pequeno e magro ao PSV Eindhoven e de lá saiu alto e forte, depois de receber as atenções do médico Cees van den Hoogenband, um assim chamado “especialista em nutrição”.
Nas entrevistas, Parreira dizia que só faltava “ajustar” o posicionamento tático da defesa nas cobranças de bola parada. Entretanto, contra a ingênua Gana, cuja reação foi cortada apenas por um gol em impedimento de Adriano, Dida defendeu, no susto e com o pé, uma cabeçada à queima-roupa, na pequena área, depois da cobrança de um córner. Contra a França, no primeiro tempo, uma cobrança de falta na diagonal encontrou um adversário desmarcado às costas de nossos zagueiros centrais, enquanto Cafu apenas olhava, e o gol só não saiu por sorte. Era de se esperar que Parreira alertasse o time no intervalo. Mas no segundo tempo, a mesma cobrança, só que no sentido contrário, resultou na penetração de Thierry Henry, livre, às costas de nossa zaga, sob as vistas de Roberto Carlos, que, parado na linha da grande área, pensava talvez nas cotações da Bolsa de Frankfurt.
A França era o primeiro adversário digno de nota que enfrentávamos. Publicidade gigantesca, fracasso retumbante. Mas as celebridades internacionais ainda estão por aí, a dar entrevistas em que continuam a se considerar os melhores do mundo e a exigir “respeito” em nome do que fizeram “no passado”.
O erro de Parreira (que, ao sentir que não enganava o público com seu “jogo bonito”, passou a dizer que o importante era levantar o caneco, mesmo jogando feio) foi respeitar demais os nomes do passado, esquecido de que futebol se ganha no presente. Suas celebridades começaram cercadas de admiração, acabaram cobertas de escárnio.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/19/2006 01:44:00 PM      |