Por Giulio Sanmartini no Observatório da Imprensa Normalmente os trabalhos sobre os prejuízos causados pela televisão à juventude são escritos por psicólogos, sociólogos, educadores, pedagogos. Portanto, chama atenção que o ensaio Volevo dirti che è lei que guarda te. La televisione spiegata a um bambino (Queria dizer-te que é ela quem te vê. A televisão explicada a um menino), Bompiani 2006, tenha sido escrito pelo diretor de publicidade e imagem do Grupo Benetton, Paulo Landi, que também é docente de comunicação e mercado do Politécnico Bovisa de Milão, isto é, nada a ver com as profissões acima citadas. Landi tomou por base seus filhos (três, dos 12 aos 6 anos) e perguntou-se se seria possível eliminar a televisão de suas vidas. Conseguiu: há oito anos aposentou a sua e, em entrevista ao periódico L’Espresso, diz que um milhão e meio de italianos fizeram o mesmo. Percebeu também que um grande número de pessoas comparece às apresentações do livro, querendo ouvir falar desse monstro que capturou tudo, nós, a política, as bonitas moças, o mercado e muito dinheiro. O autor desnuda as motivações consumísticas de uma televisão feita em grande parte pela publicidade, desconjuntadas banalidades e lugares comuns sobre o uso "inteligente" da telinha. Pouquíssimos pais se deram conta de que não é a integridade moral que preocupa os responsáveis pelas programações. É a televisão que nos olha: já nos fotografou, inseriu-nos na devida faixa etária, colocou-nos em classes de renda, reagrupou-nos em categorias, divididos em áreas geográficas, codificou nossos comportamentos, catalogou-nos. Sempre um imbecil O livro é claramente contra as telas da televisão, do computador, dos videojogos, dos celulares que invadiram os quartos dos jovens e as salas dos lares. É inquietante, para quem percebe a viscosidade desse meio que parece oferecer distração, informação, sabedoria, mas é somente uma poderosa máquina de publicidade para vender, usando como desculpa os programas. "Para um menino – continua Lando – a televisão jamais será útil, porque a finalidade do meio nunca é educativa, é sempre endereçada a escopos comerciais". É verdade que a televisão está caminhando para se tornar uma velha carcaça obsoleta, superada por instrumentos tecnológicos mais avançados, mas estes são somente uma forma de propagar o mal, e Paolo aproveita para dar sua opinião sobre a internet: "Internet tornou-se o mais grandioso meio para divulgar violência, manias, pornografia, fraudes comerciais, ciladas publicitárias", diz. "A mudança da televisão para o computador colabora para fazer com que os meninos se transformem em adultos conscientes." O prefácio foi escrito por Beppe Grillo, artista e apresentador televisivo, que se tornou famoso por suas cruzadas contra a propaganda enganosa. Diz ele: "Este pequeno livro nos oferece um retrato da infância feita por meninos gordos, inchados, que passam o dia inteiro manipulando teclados, display, gameboy e celulares. É uma campainha de alarme, convém ouvi-la". A crítica parece um pouco exagerada, mas vale lembrar um dito do educador Lorenzo Milani (1923-1967): "Um menino que se ocupa de coisas maiores que ele é sempre um imbecil".
Editado por Giulio Sanmartini às 7/19/2006 01:47:00 PM |
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