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ESTÁ FICANDO BOM
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
A pesquisa do DataFolha trouxe elementos interessantes, além de um eventual segundo turno entre Lula e Geraldo Alckmin, que promete potencializar a ferocidade da corrida eleitoral.
Vamos analisá-los separadamente.
1) O crescimento da senadora Heloísa Helena (AL), candidata do PSoL, tem tudo para continuar atrapalhando os planos do presidente e do ex-governador de São Paulo. Cada vez mais ela se consolida não apenas como a escolha óbvia para aqueles que se decepcionaram com um e para quem não deseja a volta da dupla PSDB-PFL ao poder, mas da classe média, que sofre no pelourinho dos impostos há 12 anos - oito anos de Fernando Henrique Cardoso e quatro de Lula. Mola-mestra da sociedade, procura alternativas de governante que empregue bem aquilo que é arrecadado. E a senadora vem despontando nesta direção.
2) Para quem estava renitente em relação ao discurso de Heloísa, por achá-lo raivoso e ressentido, o abrandamento que ela vem experimentando nas últimas semanas a tornou mais palatável para os que temem certas expressões. A mudança não representaria oportunismo: significa que os marqueteiros da parlamentar perceberam que quanto mais radical ela se apresentasse menos conseguiria passar sua mensagem. Suas palavras estavam desproporcionais ao objetivo, algo que fazia muita gente torcer-lhe o nariz antecipadamente.
3) A partir de 15 de agosto, quando começa a campanha na TV, o eleitor irá querer saber concretamente o que Lula e Alckmin têm planejado para combater o avanço da violência. Até agora, nada de expressivo. A pesquisa mostrou ainda que ambos têm culpa no cartório quando deixam de investir para tornar a sociedade mais segura. Sinal de despreocupação com a função primeira de todo líder, desde os tempos em que os primeiros descendentes dos macacos viviam em bandos. Neste item, Heloísa não ganha nem perde: se por um lado não é responsável pelo descalabro, suas propostas são vistas com desconfiança pelo eleitor, que está naturalmente arredio.
4) Num segundo turno entre Lula e Alckmin, quem leva o coração de Heloísa e do PSoL? Embora o partido seja de oposição ao governo, não representa ombreamento automático com tucanos e pefelistas. Se o PDT tenderia a apoiar o ex-governador, os "solares" são uma incógnita. De Alckmin programaticamente querem distância, pois, saídos da costela do PT, não vão cair nos braços justamente de seu inimigo natural. Em relação a Lula, o presidente teria de mudar muito seu governo para obter formalmente o apoio do PSoL. Aí desagradaria o PMDB, que vota pela reeleição do presidente exatamente porque sua participação no próximo mandato aumentará expressivamente.
5) Como o voto nulo seria simplesmente a recomendação ao eleitorado para dar a vitória ao ruim ou ao péssimo, dependendo do caminho que Heloísa e o PSoL seguirem estará a sobrevivência política de ambos. Ainda que não apóiem Lula formalmente, podem impor-lhe condições como participação na formulação da reforma política ou tributária, dando um formato que os agrade e não seja conflitante com o restante da base.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/20/2006 09:24:00 AM      |