Por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra O decálogo da fuga, com o roteiro dos esconderijos para escapar dos riscos da campanha, elaborado pelo comando petista com as recomendações a serem obedecidas pelo candidato e seguidas pelos coordenadores na caça ao voto é um documento espantoso, inédito em seu formato e nas recomendações ao presidente-candidato à reeleição e que merece ser examinado na surpreendente pulhice que poreja de cada linha,de cada palavra do texto acovardado, a tremer de medo da reação do povo e dos desatinos do candidato. O título escolhido com as cautelas de quem cuida de menino que se esconde debaixo das saias da mamãe, disfarça a tremedeira da paúra e apela para o evangélico despiste de “os dez mandamentos da reeleição”. Debaixo do guarda-chuva, recita as normas para driblar os perigos das ratoeiras armadas pelos inimigos. Começa com uma chamada geral suficientemente vaga, mas que os petistas não terão dificuldade para entender: 1) Não expor o candidato a situações de risco. Ou, trocado em miúdos, o brado de alerta: fuja, Lula! Corra que o bando de lobisomens está atrás de você. Nos nove itens seguintes, o comando petista perde a cerimônia e sobe o tom nas recomendações explícitas: 2) Evitar viagens para estados com divergências entre aliados. Aqui, o esbarro na perplexidade: para que diabo interessará aos aliados petistas o apoio a Lula a troco de coisa nenhuma? Em tais situações equívocas, o beneficiado costuma descascar o abacaxi comparecendo aos comícios dos dois partidos, deitar o verbo para prestigiar os candidatos sem recomendar o voto a nenhum. Claro, não é a solução ideal, mas a melhor possível. Pior, só a fuga. No item 3, com o desembaraço de quem não tem mais nada a dissimular, Lula é orientado a “evitar dar entrevistas e fazer coletivas”. A turma perdeu o pudor e desdenha não apenas o desmentido aos compromissos éticos de toda a história do partido ao ordenar ao presidente falastrão, que fala pelos cotovelos, a evitar a imprensa, bater com a porta na cara de repórteres para não escorregar no sabão da língua solta e despencar nas tolices de sempre. Os cuidados para fugir dos repórteres exigem o complemento: 4) Só falar com a imprensa quando tiver um tema específico e definido pela campanha. Adiante, 5) Não comentar assunto negativo para o governo, deixando essa função, de preferência, para os ministros. O alto comando petista perdeu o juízo e trata o seu candidato como um parvo, um retardado que precisa dos cuidados da babá para não ser enganado pelos temidos inimigos da imprensa. De dedo em riste, passa os pitos seguintes: 6) Falar sempre de temas positivos; 7) Não participar de debates; 8) Explorar mais a postura de presidente do que a de candidato; 9) Evitar a presença física no comitê da campanha e o fecho de ouro do soneto da pusilanimidade no 10) Evitar a campanha, participando de poucos atos públicos, pois uma disputa acirrada e dinâmica só interessa aos adversários. Francamente, o PT brigou com o bom-senso ou embirutou de vez. Antes de mais nada, convém que o tal comando partidário mire-se no espelho, examine o rosto marcado pelas recentes cicatrizes dos muitos escândalos da sua gandaia nos porões da corrupção e feche o bico. Não tem autoridade para dar conselhos e ditar regras o partido do mensalão, do caixa dois, das ambulâncias superfaturadas da maior roubalheira de todos os tempos. E com a agravante da cumplicidade na tramóia da absolvição de onze dos 13 denunciados pelas CPIs dos Correios e dos Bingos e pelo Conselho de Ética, no acerto com os aliados para a farra da impunidade no plenário. Com a apoteose do show da dançarina do mensalão, a deputada paulista Ângela Guadagnin. E, com o desfecho de opereta da inclusão dos absolvidos na chapa de candidatos do partido para novo mandato na Câmara dos Deputados que desonraram. O PT conseguiu o que a oposição tenta sem sucesso: desconstruir a imagem de Lula no que fora preservado em meio aos trancos e tombos do mandato atribulado. De medroso, covarde ninguém acusara o líder sindical que articulou as greves do ABC, desafiando a repressão policial e fundou o Partido dos Trabalhadores. Entende-se que os candidatos petistas receiem debates e comícios, com medo do grito desmoralizante de mensaleiros, caixa dois, sanguessugas. Mas, é demais exigir de Lula que faça companhia aos temerosos no porão da covardia.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/20/2006 07:17:00 AM |

|