Por Laurence Bittencourt Leite, jornalista
Nos Eua as grandes empresas não pertencem a “donos”. Elas pertencem aos acionistas. É a socialização do capitalismo que os socialistas nunca conseguiram fazer. Mas quem entende? E digo isso vendo a tentativa de compra da Perdigão pela Sadia. A Perdigão resolveu modernizar-se e abriu seu capital aos acionistas pulverizando esse capital, onde nenhum detem mais que 20%. Em linguagem simples e direta: a Perdigão modernizou-se. Mas por que estou dizendo isso? Além da informação, a própria informação rende outros comentários e correlações interessantes. Vamos a elas. A força econômica do Brasil se encontra, claro, nas regiões sul e sudeste. A pergunta básica é: por quê? Porque é lá que se encontra a força da iniciativa privada, o grosso do empresariado e principalmente a industrialização do país. Isso significa também que é nessas regiões que o poder de compra e consumo é mais forte, muito mais forte. O que explica, por exemplo, o êxodo de nordestinos para sampa. Lula incluso. E é essa falta de empresas privadas no Nordeste, e principalmente de industrialização que tem mantido o nosso atraso permanente. Somos uma região de funcionários públicos. Isso significa alguma coisa? Pois bem, semana passada a Fundação Getúlio Vargas divulgou dados que podem ser analisados pelas nossas autoridades. A questão é se elas querem analisar esses dados, preocupados que estão com a “política” e as passeatas. Vamos tapar o nariz. Mas pelos números da FGV, um funcionário público aqui do Nordeste ganha até 81% mais que um trabalhador da iniciativa privada também aqui do Nordeste. Pensem: eu escrevi até 81% mais. E o mais incrível. De onde vem essa dinheirama generosa para o funcionalismo público nordestino? Eta máquina. Dos subsídios vindos dos Estados do Sul e Sudeste, as regiões mais ricas do país. Destrinchando o economês: como lá tem o volume de empresas privadas e indústrias, são elas que abastecem os cofres do governo federal através de impostos, que são remetidos para a burocracia daqui. Os trabalhadores privados do sul e sudeste mantem os salários gordos e altos da burocracia nordestina. A pergunta é: e para quê? Você sabe responder? Mas perguntem, por exemplo, a Agnelo Alves, que é presidente dos prefeitos de cá, e que é bom de comunicação que ele diz o contrário em relação às cidades (ao FPM), ou seja, que quando há crise na industria paulista o governo federal reduz impostos, “sacrificando” o povo nordestino. Jesus. Isso muda? Nem que a vaca tussa. Mas quem compreende? Aqui o que Agnelo diz é aceito sem nenhum questionamento. Quanta bobagem e besteira se diz e se escreve aqui, por gente que não entende lhufas. E haja atraso. Bom, mas explicando melhor os resultados da FGV, ficamos sabendo (para quem não sabe) que de acordo com a Constituição Federal 21,5% de tudo o que a sociedade paga de Impostos sobre Produtos Industrializados-IPI e Impostos de Renda vai para o Fundo de Participação dos Estados – FPE, uma ferramenta criada para “diminuir” as disparidades sociais no Brasil. Mas em vez de corrigir e melhorar educação, saúde e infra-estrutura dos Estados, alguns poucos trabalhadores (a máquina estatal) ficam com boa parte desses recursos (o restante óbvio, se você for espertinho, já sabe para onde vai. Olhe as eleições ai), como informou o professor da FGV e da PUC-SP Nelson Marconi, um dos quatro responsáveis pelo trabalho da Fundação. Entre nós os prefeitos reclamam que recebem pouco, que falta dinheiro. Humm, cala te boca. De qualquer forma, os coitadinhos não fazem qualquer reflexão para saber porque. Eles sequer sabem que são os trabalhadores da iniciativa privada do sul e sudeste que mantem a sua ânsia pela dinheirama que não resulta em nada. Óbvio que todos esses esforços para trazer à tona essas informações em um país como o nosso, resulta em pouca coisa. E em especial no Nordeste. Aqui a preocupação é com “política” e ainda mais “política social”. Mas pelos números (estou apenas repetindo o que já venho dizendo há muito) divulgados pela FGV, fica cada vez mais claro, que quem faz pelo social é a iniciativa privada. Como em tudo. Aqui se torra dinheiro em passeatas, em compra de votos, de prefeitos, de negociatas, vereadores, para depois usar o discurso do “social”, dizer que falta dinheiro e por a culpa na iniciativa privada. Ás vezes tenho a impressão de que além de ignorância e de oportunismo, há claros traços de mau caratismo. Resta saber até quando? Mas isso é o Brasil.
Editado por Adriana às 7/19/2006 09:35:00 AM |
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