Meus amigos: Estive viajando durante a semana em que escrevi este artigo e não tinha à mão a lista de endereços para os quais envio artigos diariamente. Por isso, envio agora, com atraso de uma semana, mas atendendo à solicitação de muitos leitores amigos. Abraços, Onofre Por Onofre Ribeiro Ainda sobre a prematura morte do ex-governador Dante de Oliveira, gostaria de resgatar alguns momentos históricos, para o julgamento posterior. Até porque a engrenagem da vida é muito veloz. Esquece-se muito rapidamente. O que não estiver registrado corre o risco de perder-se para sempre. A sua história política é por demais conhecida, por isso não vou ater-me a ela. Gostaria de registrar a sua decepção, revelada no discurso de posse, em 1º de janeiro de 1995, como governador de Mato Grosso. As descobertas de que a população e o PIB de Mato Grosso representavam menos de 1% no país, e de que para cada um real arrecadado, o governo estadual devia 3 só em custeio e dívidas internas, sem contar as dívidas com o Tesouro Nacional, estimadas em R$ 3 bilhões. Daí para a frente a crise de governabilidade acabou por levá-lo a se afastar do governo por 30 dias para digerir o impacto, deixando o vice-governador Márcio Lacerda na travessia. Ao retornar, optou por trocar o PDT pelo PSDB para alcançar a governabilidade, porque as cobranças de ajuste pelo governo federal eram muito pesadas em decorrência do Plano Real. Foi quando o governo Dante de Oliveira enfrentou um dos seus maiores choques. Precisou abdicar do projeto de transformações sociais que trazia como herança do velho PMDB do qual fora membro por longos anos. Dispensou 10 mil servidores não-concursados, fechou as empresas de habitação, de armazenamento, de desenvolvimento, vendeu as centrais elétricas e fechou o banco do estado. Reeleito sob a tese de “Casa Arrumada”, no segundo mandato cuidou da divulgação de Mato Grosso em perto de 40 seminários “Mato Grosso, Hora de Investir”, realizados no país e no exterior. A produção agrícola do estado entrara em fase de escala nunca vista antes. Associada com a confiabilidade da máquina pública organizada, os seminários pretendiam atrair investimentos privados. Na eleição de 2002, Dante foi surpreendido com a derrota para o Senado, e do seu candidato, senador Antero Paes de Barros, para o governo. Entrou em baixa, junto com o PSDB. Sofreu seguidas acusações e críticas, justas e injustas. Mas, curiosamente, não se deprimiu como na crise de governabilidade e 1995. Mais maduro, não se queixava publicamente e sumiu da cena política, comparando-se à visibilidade que tinha no governo. Um dia questionei-o por que permanecia tão silencioso. Foi a única vez que o vi acabrunhado, e respondeu: “todas as vezes que eu ponho a cabeça pra fora, o procurador Pedro Taques e o juiz Julier dão cacetadas em mim ou em minha família”. De fato, essa foi uma guerra cruel, com marcas bem dolorosas na sua vida e na sua história. Porém, na sua morte, recordo-me do advogado Clóvis de Melo que, na morte do jornalista Archimedes Pereira Lima, lembrou Bousset diante do cadáver de Carlos IV: "morto, parece maior do que vivo". Ou o também jornalista Pedro Rocha Jucá: "um homem que viveu rico de sonhos”. O governador Blairo Maggi que o sucedeu no governo em clima de profundo antagonismo, disse-me na noite da morte de Dante, logo após visitar sua família na casa da mãe, Dona Maria, de telefonar para os amigos próximos, de oferecer o espaço do Palácio Paiaguás para o velório: “Não podemos ignorar que Dante de Oliveira era a maior liderança política de Mato Grosso”. As homenagens que recebeu durante o velório e o reconhecimento de sua importância política, terão resgatado esses últimos anos. Mas deixam um grande e prematuro vazio no estado.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/19/2006 10:43:00 AM |
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