Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Pelo menos trezentos mil filósofos escreveram sobre ética, nenhum concordando com o antecessor e todos justificando seus motivos de por que o indivíduo utiliza a sua liberdade para atingir determinada finalidade. "Para sentir-me bem comigo mesmo", dizia Aristóteles. "Para alcançar o reino dos céus", sustentava São Paulo. "Por egoísmo, para que meu vizinho seja ético comigo", retrucava Thomas Hobbes. "Ético é o mais forte, aquele que vence, antiético quem perde", defendeu Nietzsche. E assim por diante, até hoje, quando Noah Chomnski nega ser a ética universal e, como Marx, admite a ética do patrão e a ética do assalariado, totalmente diferenciadas.
Bandalheira justificada Um dos mais singulares autores dedicados à exegese da ética foi Maquiavel, para o qual somos éticos para que o regime político funcione bem. Acrescentou ironicamente, com base em sua premissa, que a fraude e a mentira podem ser éticos, desde que contribuam para o funcionamento do regime. Eis que o PT volta no tempo para concordar com Maquiavel. Para o partido de Lula, foi ético comprar deputados através do mensalão, desde que se comprometessem a votar com o governo. Agora, persiste o raciocínio, pelo oferecimento de R$ 1,7 milhão a uma quadrilha de assaltantes dos cofres públicos em troca de dossiê que prejudique a eleição de José Serra ao governo de São Paulo. Para o PT, justifica-se a bandalheira se é para evitar a vitória do adversário. Convenhamos, democracia consiste em cada um pensar e agir como quer, desde que dentro da lei, defendendo suas idéias com toda liberdade. Não dá é para, com base na liberdade, praticar crimes. Valer-se da fraude e da mentira para viabilizar visões particulares sobre o funcionamento do regime. Nem tudo pode ser permitido, mesmo em função de interpretações específicas a respeito do que é o bem comum - em nossa opinião o verdadeiro objetivo da ética. Jamais será ética uma eleição vencida através de instrumentos fornecidos por bandidos. Ao Príncipe tudo é dado, desde que seja um Príncipe esclarecido, mesmo déspota, escreveu Maquiavel. Será esse modelo que pretendem vestir em Lula?
Editado por Giulio Sanmartini às 9/23/2006 07:02:00 AM |
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