por Carlos I.S. Azambuja, professor em Mídia sem Máscara Nota Carlos Azambuja: O Chefe é um livro escrito pelo jornalista Ivo Patarra. Conta a história dos 403 dias do escândalo do mensalão, o maior esquema de corrupção de todos os tempos no Brasil. Os acontecimentos que abalaram o país e paralisaram o governo do PT, sob o comando de Lula e dos homens do presidente. Ivo Patarra não encontrou nenhuma editora que aceitasse editar o livro e, por isso, o disponibilizou na Internet (http://www.escandalodomensalao.com.br/). O atual momento histórico, com a proximidade das eleições, quando aparentemente Lula ganhará mais 4 anos apesar de toda a lama desse seu primeiro mandato, torna imperioso que façamos um resumo das principais passagens desse livro. É o que faremos.
Em 21 de junho de 2005, em Luziânia (GO), durante uma solenidade, Lula classificou de “bobagens” e de “denúncias vazias” as acusações de corrupção em seu governo, dizendo: “Ninguém, neste país, mais do que eu, tem autoridade moral e ética para fazer as mudanças nas instituições e no comportamento social”. Em 16 de julho de 2005, a revista Veja não deixou por menos. A reportagem de capa, “Mensalão – quando e como Lula foi alertado”, descreve cinco situações nas quais informações sobre o esquema de pagamento de propina chegaram aos ouvidos do presidente. A primeira vez, em 25 de fevereiro de 2004, por meio do deputado Miro Teixeira (PT-RJ). O episódio ocorreu duas semanas após a queda de Wadomiro Diniz. Escreve o repórter Otávio Cabral: “Waldomiro Diniz, na condição de braço-direito de José Dirceu, era quem cuidava da relação do governo com o Congresso e, com sua demissão, os credores do mensalão entraram em polvorosa. Miro Teixeira, que havia apenas três semanas assumira a liderança do governo na Câmara, começou a ser procurado pela tropa interessada em saber como seria paga a mesada dali em diante. O deputado ficou estupefato. Não sabia o que era mensalão. Entre os dias 17 e 19 de fevereiro, Miro Teixeira recebeu várias sondagens. Numa delas, na manhã do dia 17, a pressão veio em comitiva. Eram três deputados juntos, querendo saber do futuro financeiro: Valdemar Costa Neto, presidente do PL, Sandro Mabel, líder do PL, e Pedro Henry do PP”. Miro Teixeira conversou reservadamente com o presidente. Disse que deixaria o cargo por causa do mensalão. Veja relata: “Lula demonstrou surpresa, disse que nunca ouvira falar naquilo e prometeu conversar com o então ministro José Dirceu para apurar a denúncia – mas não voltou a tocar no assunto. No dia 31 de março, Miro voltou ao Palácio do Planalto e, diante do fato de que nada fora feito a respeito do mensalão, pediu para deixar a liderança. Saiu no dia 6 de abril, sendo substituído pelo Professor Luizinho”. O segundo aviso ao presidente, em 5 de maio de 2004. Quem deu foi o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB). O Planalto, em comunicado, deu a seguinte explicação à revista: “Lula não se recorda de ter ouvido nenhum comentário de Perillo sobre o assunto”. O terceiro episódio. O próprio Lula aborda o assunto, durante viagem oficial à China. Aconteceu em 25 de maio de 2004. Durante um jantar, Lula perguntou ao deputado Paulo Rocha (PT-PA) se ele já ouvira falar sobre o pagamento de mesadas a deputados. Rocha nega ter havido a pergunta, mas dez deputados estavam na mesa do jantar. Três deles confirmaram a veracidade da conversa. Nos outros dois casos, o aviso foi dado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). No primeiro deles, em 5 de janeiro de 2005, o ministro Walfrido Mares Guia (PTB-MG) testemunhou a conversa. No segundo, em 23 de março de 2005, parte da alta cúpula do governo estava presente, no gabinete de Lula no Palácio do Planalto: José Dirceu (PT-SP), ministro da Casa Civil; Aldo Rebelo (PC do B-SP), ministro das Relações Institucionais; Walfrido Mares Guia, do Turismo; Gilberto Carvalho, chefe de gabinete do presidente; Arlindo Chinaglia (PT-SP), líder do governo na Câmara; e o deputado José Múcio (PTB-PE). A revista conclui: “Se soube do assunto e não tomou providências, Lula pode ser acusado de crime de responsabilidade, previsto nos artigos 84 e 85 da Constituição e, também, na Lei nº 1079, editada em 1950, conhecida como Lei do Impeachment. Pela lei, o presidente, se soube do mensalão, tinha de ter mandado apurar. ‘Se o presidente teve ciência disso, caracteriza-se uma omissão, que é um caso típico de crime de responsabilidade’, afirma o jurista Miguel Reale Júnior, que redigiu a petição que resultou no impeachment de Fernando Collor, em 1992”.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/23/2006 04:50:00 AM |
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