Por Alan Gripp e Tatiana Farah - O GloboJornal Nacional CUIABÁ e BRASÍLIA - Em depoimento à Polícia Federal na noite desta quinta-feira, o empresário Luiz Antônio Vedoin, chefe da máfia dos sanguessugas e acusado de ter negociado um dossiê com petistas contra os tucanos, disse que o ex-ministro da Saúde e candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, não teve envolvimento nas fraudes da vendas de ambulâncias com recursos federais a prefeituras. Uma semana antes, em entrevista à revista "IstoÉ", Vedoin acusara Serra ao afirmar que, em sua gestão, era mais fácil obter a liberação de dinheiro da pasta, e que o então ministro sabia das operações fechadas mediante pagamento de propina. De acordo com investigações da Polícia Federal, o dossiê dos Vedoin, que supostamente seria vendido ao PT, ainda não foi apreendido pela Polícia Federal. A PF afirma que o dossiê original tem duas mil páginas e envolve não só o PSDB , mas outros partidos, inclusive o PT. O minidossiê apreendido até agora trata principalmente das supostas ligações dos ex-ministros da Saúde do governo Fernando Henrique Cardoso José Serra e Barjas Negri. O dossiê completo, no entanto, segundo os depoimentos de Gedimar e Valdebran, teria sido visto por "analistas do PT", na terça-feira antes das prisões, ocorridas na sexta-feira passada.
Segundo a PF, as acusações feitas por Vedoin na entrevista da "IstoÉ" faziam parte de um pacote negociado com representantes do comitê de campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do qual fazia parte o dossiê com imagens de Serra participando de uma solenidade de entrega de ambulâncias vendidas pela máfia, em 2001. Na quinta-feira, depois de estourado o escândalo, Vedoin disse que a participação de Serra se resumiu a sua presença na solenidade, "não havendo indícios de que tenha participado da máfia dos sanguessugas". Durante seu depoimento, Vedoin também isentou de culpa o candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin. No dossiê que tentou vender ao PT, Vedoin incluiu uma foto de Alckmin na mesma cerimônia de entrega de ambulâncias, em 2001. Vedoin, no entanto, manteve as acusações que fez contra o empresário Abel Pereira na mesma entrevista a "IstoÉ". Ele voltou a dizer que Pereira recebeu propina para liberar recursos pendentes na gestão de Barjas Negri, sucessor de Serra no Ministério da Saúde. A Polícia Federal descobriu que Abel ligou pelo menos três vezes para Vedoin no dia em que ele fechou a venda do dossiê contra os tucanos (quinta-feira, dia 14). O ex-ministro da Saúde, Barjas Negri, classificou de descabidas e fantasiosas as informações prestadas pelos Vedoin, que o ligariam à Máfia das Sanguessugas. Em nota, Barjas Negri afirmou que Abel Pereira não operava no Ministério da Saúde, disse não conhece os Vedoin e que nunca esteve com eles ou com seus representantes. Barjas Negri é atual prefeito de Piracicaba, São Paulo. O empresário Abel Pereira não foi encontrado. No início do depoimento Vedoin ainda tentou negar o envolvimento de integrantes da cúpula do PT no episódio, e atribuiu a negociação a Valdebran Padilha da Silva, que foi preso com R$ 1,7 milhão num hotel em São Paulo. Ao ser confrontado com as escutas telefônicas, feitas pela Polícia Federal, voltou atrás e revelou ter negociado diretamente com os petistas o conteúdo e o preço do dossiê contra Serra e Alckmin. Durante o depoimento, Vedoin revelou que se encontrou com dois integrantes da cúpula do comitê de campanha do presidente Lula em Cuiabá na semana em que foi montado o dossiê contra o PSDB. Ele disse ter conversado pessoalmente com Expedito Afonso Veloso e Osvaldo Bargas, que coordenavam a área de inteligência da campanha à reeleição de Lula, para tratar da negociação do material. Pelo menos um encontro ocorreu no aeroporto de Cuiabá.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/23/2006 04:36:00 AM |
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