Por José Inácio Werneck em Direto da Redação Frank Rich, do New York Times, é um de meus articulistas preferidos. Antigo crítico de teatro e cinema (ganhou o apelido de “Broadway Butcher” por suas opiniões ferinas), tornou-se depois um ensaísta, sempre com colunas publicadas aos domingos, e seu campo preferido é o dia a dia da política americana. Rich lançou agora um excelente livro e, até pelo título, mostra ainda ligações com seu antigo ramo. O nome é The Greatest Story Ever Sold, um jogo de palavras com o conhecido filme bíblico do diretor George Stevens, em 1965, The Greatest Story Ever Told. Aquela narração bíblica era a maior história jamais contada. Esta agora de Rich é sobre a maior história jamais vendida. O subtítulo, também num jogo de palavras, deixa claras suas intenções: The Decline and Fall of Truth, from 9/11 to Katrina. O Declínio e a Queda da Verdade, de 11 de setembro a Katrina.
O que Rich nos desvenda é o teatro de mentiras montado pela administração George W. Bush desde os primeiros dias na Casa Branca até os atuais, mas intensificados a partir da fatal decisão de invadir o Iraque. E o que a mim falou mais de perto no livro foi constatar que uma de minhas modestas opiniões sobre o assunto está inteiramente referendada por Rich. Lembro-me que, em junho de 2002, almocei em Londres com um jornalista inglês, a quem disse o seguinte:”George W. Bush já decidiu ir à guerra contra o Iraque, com ou sem razão, por motivos inteiramente políticos; ele sabe que o eleitorado americano adora uma patriotada, uma demonstração de força”. Quase um ano depois, a 20 de março de 2003, foi exatamente o que aconteceu. Já naquela ocasião havia e até hoje há muitas discussões sobre o motivo. O primeiro, apresentada por George W. Bush, foi o das “armas de destruição em massa”. Depois, subseqüentemente, ou pela própria administração americana ou por diversos analistas, a sede pelo petróleo, a implantação da democracia no Oriente Médio, um jogo geo-político para fortalecer Israel, etc. Mas ao longo de todas as encenações, como o da famosa foto em que o intrépido presidente apareceu fantasiado de Tom Cruise a bordo de um porta-aviões, sob uma faixa que dizia “Missão Cumprida”, tudo o que George W. Bush queria mesmo era enganar o respeitável público, garantir com seu canto guerreiro uma maioria republicana no Congresso em 2002, reeleger-se em 2004 e outra vez obter uma maioria no Congresso nas eleições de novembro próximo. Ao longo da melancólica trajetória, como Frank Rich mostra, a grande imprensa americana (aí incluído o próprio New York Times) deixou-se manipular com espantosa facilidade. Resta saber por quanto tempo ainda transigirá com um drama que virou farsa e agora já entra na categoria de ópera-bufa.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/23/2006 04:45:00 AM |
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