Por José Inácio Werneck em Direto da Redação
Segundo Stanislaw Ponte Preta, a televisão era a máquina de fazer doido. Que inocência! A verdadeira máquina de fazer doido não foi por ele conhecida e está neste instante à minha frente. Ou eu estou à frente dela. É o computador.
Uso-o por absoluta necessidade, mas detesto-o, pois não há um único dia em que não me assalte com uma armadilha cruel. Se eu fosse me informar sobre todos os sweepers, anti-virus, blockers, anti-spams, urgent updates, instante-messaging, skypes e outras carências com as quais me vejo diariamente confrontado, não teria tempo para fazer mais nada. Aliás, tenho um livro chamado Computer Basics, com a advertência de que é endereçado a Absolute Beginners, mas não tenho tempo de lê-lo, pois o computador não deixa.
Ainda ontem passei horas atracado primeiro com a Comcast, que dá vida ao meu desktop, e depois com a Linksys, que se responsabiliza pela Internet no laptop, no sistema sem fio. Meu único lucro é que estou aprendendo a entender inglês falado com os mais estranhos sotaques, desde o filipino ao bengalês, passando pelo urdu, tâmil e do Alto Punjab, regiões onde meus interlocutores invariavelmemente residem nestes tempos da globalização. Sempre pedem que eu soletre meu primeiro nome e depois o pronunciam de forma totalmente incompreensível. Vingo-me, fazendo o mesmo com o deles.
Como os brasileiros não gostam de ficar atrás quando se trata de apoquentar o consumidor, o Globo online apareceu agora com uma nova edição, que se esmera em me informar que necessito desbloquear meus bloqueadores de popup. Desbloqueio-os, apenas para receber nova mensagem, exigindo que eu faça pela enésima vez o que acabei de fazer neste exato instante. A uma determinada altura, colocaram no ar uma edição de 15 de outubro de 1969! O Globo online já existia em 1969? Então, inventamos a Internet.
É o progresso, dirão os nerds. Mas o progresso é mesmo subjetivo. Vivo na única superpotência mundial, no país que manda homens à Lua e naves a Saturno, tem a bomba de hidrogênio, abiscoita quase tudo o que há em matéria de Prêmio Nobel em ciência, química, física, matemática, e, entretanto, é habitado por uma maioria de pessoas que não acreditam na Evolução das Espécies.
Este é o resultado de uma pesquisa que reuniu 32 países europeus, o Japão, os Estados Unidos e a Turquia. Apenas nos Estados Unidos e na Turquia a maioria da população rejeita Chales Darwin. O que há de extraordinário é que a Turquia, embora oficialmente secular, é um país muçulmano. Os Estados Unidos, também seculares de nome, são um país cristão.
Mas não apenas cristão. Os Estados Unidos são um país em que há uma influência crescente dos fundamentalistas cristãos, que tomam a Bíblia ao pé da letra. Vejam o caso do veterinário Steve Abrams, que é o chairman do Comitê Escolar do Estado de Kansas. Ele declarou ao New York Times que Deus criou o Universo há 6.500 anos, “como está na Bíblia”.
E esse cavalheiro trata da educação infantil! Muçulmanos e cristãos encontram afinal um ponto em que estão de acordo.