Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa A corrida eleitoral na TV começa hoje com o debate entre os presidenciáveis na Rede Bandeirantes. De todos, apenas Lula não estará presente, mas não por conta do mau desempenho, semana passada, no "Jornal nacional". Em entrevista dias atrás a Ana Paula Padrão, do SBT, alegou que não poderia expor a instituição Presidência da República aos ataques de um mero episódio de campanha. Como raciocínio, está correto. Afinal, ainda que seja candidato, carrega sobre os ombros o cargo, que certamente será atingido pelas críticas dos concorrentes. Muitos dos telespectadores podem se chocar com a exposição da cadeira presidencial ao desrespeito. Mas, por outro lado, a ausência de Lula também dá munição aos seus adversários, que, no mínimo, tentarão passar para o eleitor a idéia de que ele evitou o debate ou, usando uma definição popularesca, correu da rinha.
No último debate presidencial de 1989, antes do primeiro turno de votação, ainda é clara a imagem de Leonel Brizola, então postulante à presidência pelo PDT, exortando o eleitor, nas considerações finais, a "votar em qualquer daqueles que estavam ali presentes, menos naquele que não comparecera e que evitara a discussão cara a cara". Se referia ao futuro ex-presidente Fernando Collor. Naturalmente que, hoje, na Bandeirantes, ninguém tem a envergadura política de Brizola, mas palavras desta natureza ditas contra o chefe de um governo que foi devastado pela decepção e pelas acusações de corrupção podem causar enorme estrago. Mesmo porque, no debate, não haverá ninguém capaz de falar minimamente bem de Lula. Se da parte de Geraldo Alckmin tal postura seria impossível, de Heloísa Helena ou de Cristóvam Buarque também não há a menor chance. A senadora, porque sofreu um processo público de humilhação na época da expulsão do PT: ainda que a "inquisição" tenha sido conduzida pelo ex-ministro José Dirceu, o presidente viu-a impassível arder na fogueira do paço. O mesmo se deu com Cristóvam, derrotado pela ortodoxia da política econômica de Antonio Palocci, que tratou o setor social - especialmente a educação - a pão duro e água suja. Os outros dois, José Maria Eymael e Luciano Bivar, pelo menos não têm a carga emocional com que classificar Lula. O presidente se espelha no período que precedeu à reeleição de Fernando Henrique Cardoso. Também vivendo os bons ares da economia, sobretudo o da paridade do real com o dólar, sabia que o ganho de poder aquisitivo experimentado pela classe média lhe daria o segundo mandato com a maior tranqüilidade. De fato, nas pesquisas de opinião nada o abalava, até porque as denúncias de corrupção havidas em seu governo (Pasta Rosa, Caso Sivam, por exemplo) não foram suficientemente fortes para desestabilizá-lo. O PT e Lula padeciam, então, da histeria denuncista que enxergam nos atos da atual oposição. O resumo da ópera é que o presidente não ganha coisa alguma estando ou não presente ao debate. Até ao contrário: amanhã é que se saberá dos primeiros efeitos sobre se perdeu muito ou pouco.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/14/2006 04:38:00 AM |
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