Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
BOA, ESSA. CONTA OUTRA COMPANHEIRO
Por Augusto Nunes, no Jornal do Brasil
Quer dizer que José Dirceu e Antonio Palocci não deixaram voluntariamente o ministério? Quer dizer que foram demitidos pelo presidente da República - um Grande Pastor zeloso da ética, da moral e dos bons costumes, sempre disposto a expulsar do rebanho ovelhas delinqüentes? Com essa versão, decorada nos ensaios da tarde, o candidato à reeleição procurou safar-se dos entrevistadores do Jornal Nacional.
Foi bom o desempenho dos jornalistas William Bonner e Fátima Bernardes. Teria sido exemplar se a fantasia de Lula fosse desfeita no ar por verdades singelas. "Recebi seu pedido de afastamento...", informa o começo da carta enviada por Lula a Dirceu - aquela do "meu querido Zé", lembram? Quem demite não trata o demitido com tamanha pieguice. Quem desemprega não chama o desempregado de "grande irmão" e "melhor ministro de todos os tempos".
Segundos antes, ele havia reiterado que ninguém pode ser punido sem que a denúncia tenha sido comprovada. Pendurado nesse argumento, dispensou-se de comentários inteligíveis sobre a quadrilha dos 40 desmascarada pelo procurador-geral da República.
Por que, então, puniu o capitão de times perdedores e o estuprador de contas bancárias? O que teria o chefe descoberto para decidir que a dupla tem culpa no cartório? Lula já deve saber que essa foi boa, mas não colou. Conta outra, companheiro.
A estante plantada às costas do presidente que odeia livros perturbou o falatório do improvisador. No começo da entrevista, Lula festejou "o combate à ética". No fim, reconheceu que "o salário caiu". Durante, multiplicou por mil as fronteiras do país.
Pela primeira vez na TV, foi constrangido a falar do amigo Paulo Okamotto, o trenzinho-pagador da primeira-família. Não negou nem admitiu que o generoso Japonês pagou o empréstimo concedido pelo PT. Cego à papelada sobre a transação, preferiu desmentir a própria existência do empréstimo. "Nunca devi nada ao partido", recitou. "Portanto, não havia nada a pagar".
A declaração do inadimplente reduz os cobradores do PT a estelionatários. Não há qualificação mais exata para quem quer receber o que não emprestou. E promove Okamotto a bobo da corte. Não há posto melhor para quem paga dívidas imaginárias.
O Jornal Nacional acabou de informar: Lula faz muito bem em driblar debates eleitorais. Não está preparado para a travessia do Pântano Grande. Repete que não merece vaga no balaio dos suspeitos. Só estimula a suspeita de que o Brasil não merece Lula de novo.




Editado por Giulio Sanmartini   às   8/13/2006 07:25:00 AM      |