por Dora Kramer em O Estado de São Paulo Irretocáveis os entrevistadores do Jornal Nacional. Conseguiram fazer ao presidente da República as perguntas relativas ao universo de problemas enfrentados por ele - a corrupção de costumes em seu governo e partido - sem agressividade nem impertinências desnecessárias. Não caíram, pois, na armadilha de tentar igualar o tom usado com Alckmin - bem mais incisivo - só para simular independência. Marcaram esse atributo abordando os temas pertinentes à realidade do candidato à reeleição que, por si só, já eram suficientemente constrangedores. Roubalheira não é assunto fácil em conversa alguma, ainda mais no ambiente da residência oficial e em se tratando de um presidente e todo o ritual institucional que cerca o cargo. Já o presidente Luiz Inácio da Silva, no papel de candidato saiu-se como pôde, com as tergiversações de sempre e em acordo ao que lhe foi indicado por seus assessores de comunicação e propaganda.
Ninguém poderia esperar que Lula fizesse como candidato em disputa por mais um mandato o que não fez como presidente: uma afirmação contundente de repúdio aos companheiros malfeitores e autocrítica por ter se cercado de gente não confiável. Os assessores ensinaram ao presidente que deveria assumir "total responsabilidade" sobre os erros cometidos por "qualquer funcionário" do governo. Mas não lhe disseram que ao continuar dizendo que nunca soube nem poderia saber de nada do que era feito por gente com quem mantinha relações políticas há 30 anos, a alegada "responsabilidade" não soaria convincente. E, de fato, não soou. Como presidente, e ali só o fato de a entrevista ser realizada no Palácio da Alvorada impunha a evidência dessa condição, faltou compromisso com o posto. Tentou falsear a história - ou assumiu que antes falseou -, dizendo ter demitido subordinados a quem na época homenageou com a demissão "a pedido" (Waldomiro Diniz incluído) e mostrou não conhecer seu país ao errar dados simples como a extensão das fronteiras brasileiras. Não houve revelações e sim confirmações. Para usar expressão cara ao presidente, sejamos francos: se ele não sabe o tamanho do país que governa nem o que se passa na Casa Civil e no Ministério da Fazenda, o que sabe mesmo o presidente?
Editado por Giulio Sanmartini às 8/12/2006 06:00:00 AM |
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