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ZIDANE
por Sebastião Nery na Tribuna da Imprensa

No início das partidas, como capitão da seleção francesa, Zidane leu (todos os capitães leram) a mensagem da Fifa convocando a todos para o combate ao racismo. E Zidane foi escalado para concretizar a mensagem e travar a primeira batalha: deu uma cabeçada no jogador italiano Materazzi, que xingou sua irmã de "puta" e o chamou de "árabe fedorento".
Quem conhece a Itália (e vivi lá) sabe. Aquele país maravilhoso (com 54% do patrimônio cultural da humanidade), com as exceções de sempre, tem o povo mais racista da Europa. Detestam negros e árabes. Qualquer discussão com um árabe começa e termina com o mesmo refrão: "Árabe fedorento!"
A leitura labial que a França exigiu e a Fifa mandou fazer, do que o italiano Materazzi disse, já começou a comprovar. Foi racismo de Materazzi.
Uma pergunta inocente. Todas as seleções da Europa têm jogadores negros ou árabes. Ou os dois juntos, como a francesa. Por que será que a italiana é a única que não tem um só negro ou um só árabe? Viva Zidane!

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SEBASTIÃO NERY E ZIDANE
Por Giulio Sanmartini
Desde minha juventude acompanho a carreira do jornalista Sebastião Ney. Trata-se de um profissional brilhante, com uma conversa agradável e um simpático contador de casos que consegue prender a atenção de todos que o ouvem. Especializou em colecionar fatos curiosos acontecidos dentro do folclore político, seus escritos são indispensáveis quem quiser fazer uma pesquisa sobre a história brasileira da época posterior à ditadura de Vargas.
Todavia, em sua coluna na Tribuna da Imprensa (12/7), em nota publicada acima, em que comenta a agressão cometida por Zidane a um jogador adversário, Nery comete alguns equívocos.
Moro na Itália há dez anos, circulo pelo país e meu sotaque faz-me parecer estrangeiro, todavia jamais fui alvo de racismo. Certamente Nery está confundindo racismo, preconceito extremado contra pessoas pertencentes à outra raça; com xenofobia, aversão aos estrangeiros. Infelizmente, nos paises receptores de emigrantes, como os da atual e rica Europa, verifica-se o anti-estrangeirismo. Assim foi no Brasil quando ainda era o país de futuro e recebia um grande contingente de estrangeiros, estes eram classificados de forma pejorativa: os italianos de carcamanos, os portugueses de galegos (a fora as piadas), os sírios libaneses por turcos, que são seus inimigos históricos; os orientais de raça amarela de Mané Japa. Eu mesmo, criado no subúrbio carioca do Jacaré, fui, aos 17 anos, alvo de xenofobia e racismo. Minha primeira namorada morava no Morro do Jacarezinho, passados um 15 dias, disse-me que não poderíamos continuar, pois seu irmão não queria que ela namorasse uma “gringo branco azedo”.
Diz a lenda que no Brasil não há preconceito racial, conversa fiada. Os negros chegaram na primeira metade do século XVI e passadas inúmeras gerações, nada mais tem a ver com a África originária de seus ancestrais. Contudo as odiosas expressões: preto de alma branca; é preto mas sabe ficar no seu lugar; preto quando não suja na entrada suja na saída, não as ouvi na Itália e sim no Brasil.
Quem jogou futebol e não o fez somente no carpete da sala, sabe que no calor de um jogo difícil crrem soltos xingamentos e agressões verbais, findo o jogo nem se fala mais no assunto. Contra Zidane há uma situação agravante, ele é reincidente, na Copa de 1998, foi expulso por ter agredido covardemente um jogador da Arábia Saudita, será que este o xingou de “Árabe fedorento”? não creio.
Nery ao observar que na Itália não jogam negros nem árabes, mostra um desconhecimento, talvez por conveniência, da história. França, Portugal, Inglaterra e Holanda, durante séculos desenvolveram uma política colonialista, na África, América, Europa e Oceania, muitos habitantes das colônias tiveram o direito à cidadania do país colonizador, por isso em suas nacionais de futebol jogam negros e árabes. Já o colonialismo italiano foi um delírio da ditadura fascista e durou muito pouco, sem influência cultural ao colonizado. Até a Segunda Guerra são poucas as notícias de negros nascidos na península, só depois, começaram os mestiços originados da ligação de italianas com soldados estadunidenses, esse é o motivo de uma seleção composta somente de brancos, o que não pode ser considerado racismo.
As faltas fazem parte do jogo de futebol, para coibi-las e puni-las é que existem os árbitros. As faltas podem ser involuntárias e apenas punidas, violentas, o que leva o jogador a ser admoestado com o cartão amarelo de advertência e as desleais que geram o cartão vermelho de expulsão. Mas a agressão física perpetrada por Zidane, nos paises civilizados é considera um crime previsto no código penal e sujeito às sanções da lei. Nery ao terminar sua nota com um “Viva Zidane!”, está errônea e inconseqüentemente fazendo apologia ao crime.


Editado por Giulio Sanmartini   às   7/13/2006 04:37:00 PM      |