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MODESTA, PORÉM DECENTE
por Dora Kramer em O Estado de São Paulo

CPI dos Sanguessugas nasceu sem glórias, mas vai mostrando devagar o seu valor

Modestamente, sem grandes pretensões nem declarações de efeito e a consciência de que não patrocinará cassações de mandatos, depoimentos teatrais ou relatórios vistosos, a CPI dos Sanguessugas vai mostrando o seu valor.
Nascida para morrer submersa no boicote de um conluio entre cardeais e baixos clérigos, a comissão nem bem começou e já cumpriu importante missão ao provocar o afastamento de dois integrantes da Mesa Diretora da Câmara que, envolvidos nas denúncias de manipulação fraudulenta de emendas ao Orçamento da União, continuavam de posse de todas as prerrogativas parlamentares como se nada houvesse de anormal no fato de serem apontados como integrantes de uma máfia com ramificações amplas nos Poderes Executivo e Legislativo.
Antes da CPI, quando surgiram as denúncias a partir de uma operação da Polícia Federal e do Ministério Público, a Câmara ensaiou uma investigação na corregedoria e, num ato relâmpago decidiu, como se diz em gíria da moda, "abafar o caso".
Manteve no sossego de seus cargos o segundo e o quarto-secretários da Mesa, Nilton Capixaba e João Caldas, alegando repúdio ao prejulgamento.
Quando a comissão se instalou por obra de um esforço de pequeno grupo de deputados, sua primeira providência foi pedir o afastamento de ambos.
O presidente da Câmara, Aldo Rebelo, então, resolveu tomar uma providência e recusou-se a reunir o colegiado diretor enquanto Caldas e Capixaba continuassem em seus postos. Nesta semana, os dois pediram afastamento, coisa que poderia ter sido feita por iniciativa da corregedoria lá atrás, dada a clareza do malefício daquelas presenças na direção do Parlamento.
Só por esse resultado, mesmo que não fizesse mais nada, a CPI dos Sanguessugas já teria justificado sua criação. Mas ela está indo além: insiste no pedido à presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Ellen Gracie, de quebra do segredo de Justiça sob o qual transcorre o processo, pelo menos em relação ao nome dos parlamentares apontados como cúmplices pelos acusados que fizeram acordo de delação premiada com o Ministério Público.
O STF pode até não ceder, mas só a pressão exercida e a visibilidade conferida pela CPI a um caso destinado a mergulhar no esquecimento pela morosidade da Justiça já revelam à opinião pública fatos que explicam a razão de tanto empenho de cardeais e baixos clérigos para que a CPI não fosse instalada e justificam plenamente sua criação e, agora, sua prorrogação até o fim do ano.



Editado por Giulio Sanmartini   às   7/13/2006 12:23:00 PM      |