por Villas-Bôas Corrêa em A Voz da Serra Nos últimos dias, o presidente-candidato Lula da Silva colecionou bons motivos de alegria e uma carga pesada de preocupações com a implosão do tanque de gasolina roubada do mega-escândalo de compra das ambulâncias superfaturadas, envolvendo, por enquanto, três senadores e um lote de 60 a 80 deputados federais em trapaça de bandidos organizados em quadrilha, que bate todos os escândalos da nossa expressiva crônica parlamentar, do famoso caso da CPI dos anões do orçamento ao esquema de propina que levou ao impeachment do presidente Fernando Collor de Mello. Nos três anos e meio do mandato do companheiro Lula, a rica coletânea de denúncias que desfilou pelas CPIs dos Correios e dos Bingos, pela devastadora peça acusatória do procurador-geral da República, Antônio Fernandes de Souza, que aponta os 40 envolvidos no esquema do mensalão, para a compra e aluguel de parlamentares e do caixa dois para o financiamento da campanha do PT e do candidato à reeleição, provocou a queda no ostracismo de figurões do primeiro escalão do governo e, entre pitos e afagos, a derrubada da cúpula petista. Entre as baixas mais ilustres, a lista inclui o ex-chefe da Casa Civil, o então todo-poderoso José Dirceu; o ministro da Fazenda e ditador da economia, Antonio Palocci; o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira; o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o captador de recursos para o financiamento da suntuosa campanha do presidente, com a ajuda inestimável do empresário Marcos Valério de Souza; a de José Genoino da presidência petista e de dezenas de parlamentares. Mas, se o governo dava a volta por cima, com o presidente a jurar que nada vira, de nada sabia e o resto da turma a escapulir com as negaças e evasivas, a desmoralização do Congresso agora alcançou dimensões calamitosas, com riscos crescentes de evoluir para uma crise institucional. Nas funduras da rejeição pela sociedade, paralisado pelas intermináveis brigas e futricas entre o núcleo governista e a oposição e com a sombria perspectiva de uma reação popular no voto nulo ou em branco, o Legislativo está a carpir um dos mais graves e dramáticos transes de uma crônica atribulada. O que parecia o fim do mundo conseguiu a proeza de piorar. Pois a máfia dos sanguessugas é uma organização de assaltantes dos cofres públicos, que se estende por quatro ministérios – da Saúde, das Comunicações, Ciência e Tecnologia e Transportes – do governo federal aos governos estaduais e prefeituras, operando com o superfaturamento, além de ambulâncias, de ônibus escolares, unidades digitais móveis e outras miudezas. O golpe é planejado em etapas articuladas e centralizado no empresário Luiz Antônio Vedoin, dono da empresa Planam e que deu todo o serviço em depoimento à CPI dos sanguessugas. No primeiro tempo, o senador ou deputado aliciado propõe emendas ao Orçamento, com a destinação de verbas para a compra de ambulâncias para determinada prefeitura. Na concorrência fraudada, a Planam ganhou todas. E distribuía as propinas: 18% para os parlamentares e 10% para os prefeitos. Não há como deter a amazônica inundação do Congresso pela imundície do novo escândalo terminal. A Câmara viciada na absolvição dos acusados de corrupção não conta com lideranças e nem autoridade para a limpeza do lixo de cerca de 20% dos 513 deputados, com cassações em bloco. Sobrou para o eleitor a tênue esperança da reação moral de negar o voto aos denunciados. Mas é impossível separar o joio do trigo na mistura da bancada evangélica dos dizimistas, do baixo clero, dos petistas perdoados para disputar novo mandato e demais espertalhões no bolo solado das absolvições pelo voto secreto. Não há sinal de saída no horizonte.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/13/2006 12:20:00 PM |
|