Por Eliane Cantanhêde
Há alguns meses, um rapazinho de 14 anos estava andando de skate com primos e amigos num subúrbio do Rio de Janeiro, de tarde, dia claro. A polícia chegou, com as sirenes ligadas, os soldados armados, aquele pandemônio. Apavorados, os meninos correram. Um soldado não teve dúvida: mirou, atirou e matou pelas costas, com um único tiro certeiro, o rapazinho. Achou que "era bandido". Vizinhos viram, e pais, tios, primos, amigos, todos sabem quem eram os soldados, qual deles atirou, como atirou. Mas ninguém abriu a boca. Nem para a Justiça, nem mesmo para a imprensa -como insisti, indiretamente-, muito menos para a própria polícia. Todos ficaram surdos, cegos e mudos, engolindo as lágrimas. O pânico foi maior do que a vontade de punir os culpados. Ou, em palavras bem diretas, contabilizaram que mais valia perder um filho/sobrinho/amigo calados do que denunciar e perder os outros. Temeram que os policiais (ou bandidos?) voltassem e "concluíssem o serviço", matando o resto da família. É pior, mais assombroso, do que a "Escolha de Sofia". E aqui, nas nossas barbas. Agora, essa nova onda de atentados em São Paulo, comandados pelo PCC, com a organização, a liderança e a eficácia que o poder público não tem -nem em São Paulo, nem em Brasília. Os criminosos assumiram o controle da situação. Podem tudo. O Estado se sacode. A conclusão é que os maus policiais matam inocentes, enquanto os bandidos matam os -aparentemente- bons policiais e seus filhos. Foi-se o tempo (bons tempos) dos "bang-bangs" em que os mocinhos sempre venciam no final. No Brasil de hoje, os bandidos matam, os mocinhos morrem. E até na "novela das 8" a vilã assassina foge, lépida, feliz, rindo da nossa cara. Se eles riem, só nos resta chorar.
Editado por Adriana às 7/13/2006 09:33:00 AM |
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