por Eliane Catanhede em a Folha de São Paulo O companheiro Hugo Chávez não perdeu tempo: aproveitou o dia da adesão da Venezuela ao Mercosul e já mostrou que não está aí para brincadeira. Está aí para disputar a liderança do bloco. Com quem? Com Lula, claro.
Enquanto o presidente brasileiro prometia ajuda aos países mais pobres do Mercosul, o Paraguai e o Uruguai, Chávez já estava lá adiante, não apenas prometendo, mas já dando objetivamente a ajuda.
Depois de se encontrar com o presidente paraguaio Nicanor Duarte, Chávez anunciou que vai empregar US$ 100 milhões para comprar bônus da dívida do Paraguai com Itaipu, a hidrelétrica que o país divide com... o Brasil. Os títulos da dívida são negociados na Bolsa de Nova York pela Eletrobras, e sua compra foi reivindicada por Nicanor Duarte publicamente, numa entrevista em que descascou contra os sócios ricos do Mercosul. Ele disse ao "Financial Times" que Brasil e Argentina são "egoístas e hipócritas" porque reclamam do protecionismo dos EUA e da Europa, mas o praticam em casa, ou seja, no próprio continente.
Lula, que passou apenas algumas horas em Caracas, o suficiente para a cerimônia de adesão da Venezuela ao Mercosul, reagiu dizendo que é preciso mesmo acabar com "as assimetrias" e prometeu ajuda. Rápido no gatilho, Chávez não ficou nas promessas _ele anunciou a ajuda e ainda frisou, para não haver dúvidas: "É um fato".
A entrada da Venezuela no Mercosul tem boas vantagens econômicas, porque o bloco passa a ter um mercado de 250 milhões de pessoas, com PIB de US$ 1 trilhão e um comércio global de mais de US$ 300 bilhões. Além disso, lembremos que a Venezuela nada em petróleo e em dólares, mas tem uma planta industrial e uma agricultura frágeis. Vai jogar dinheiro no Mercosul e tende a comprar muito e muito dos sócios. Aliás, só de 2004 para 2005, as vendas do Brasil para o país de Chávez cresceram 51%.
O problema da adesão venezuelana é, ou pode ser, político: o temor geral é que, daqui em diante, todas as reuniões do Mercosul sirvam de palco para Chávez: 1) desancar os EUA; 2) ocupar todos os espaços; 3) ser o porta-voz e se arvorar de líder do bloco.
Lulinha Paz e Amor, que se sente predestinado a ser líder mundial, pode ter ganho um parceiro bem rico no Mercosul, mas também cheio de idiossincrasias, competitivo e com uma volúpia de poder incomensurável.
Editado por Giulio Sanmartini às 7/05/2006 01:22:00 PM |
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