por Onofre Ribeiro Na semana passada foi inaugurada a restauração do prédio histórico “Casa Barão de Melgaço”, onde funcionam o Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso e a Academia Matogrossense de Letras. Alguns símbolos são emblemáticos, além de históricos. A Casa Barão de Melgaço é um desses. Foi construída entre 1775 e 1777. Nela morou a partir de 1843 o Barão de Melgaço, militar e intelectual francês, profundamente integrado à cultura mato-grossense. O Instituto Histórico mudou-se para o prédio em 1930, depois de doado por uma das herdeiras do barão. A restauração incluiu o prédio, o antigo restaurante universitário, inaugurado na década de 60, e o pátio comum aos dois. A Casa Barão de Melgaço é um prédio no estilo colonial, construído na antiga Rua do Campo, hoje Barão de Melgaço. Sua marca principal é a fachada e os alto relevos no entorno de seus janelões de madeira. As paredes em adobe e o telhado colonial da época. É um dos poucos prédios do centro histórico de Cuiabá que se mantém intacto, apesar de bastante gasto pelo tempo. Sofreu muitos reparos até passar agora pela atual ampla recuperação que lhe dará sobrevida, porque obedece a técnicas de construção atuais usadas nos modernos restauros. Quando se fala em centro histórico, tem que se falar em História. A velha Cuiabá colonial surgida lá em 1719, tinha a marca das povoações portuguesas. Ao redor do centro político e religioso, a cidade se erguia em ruas de casas geminadas, ao estilo português. Isso durou até duas etapas: uma, após a guerra com o Paraguai, quando a liberação da navegação permitiu que uma onda de desenvolvimento que estava represada em Buenos Aires, Montevidéu e Assunção, subisse rio acima até Cuiabá. A face urbana mudou muito, principalmente a arquitetura que adotou o ferro e inovações não usadas até então. A segunda, até por volta de 1960, quando Brasília trouxe uma forte influência do concreto aparente e das grandes áreas envidraçadas. O Centro Político e Administrativo tem a cara de Brasília e se expandiu em influências diversas sobre a capital. Mas o pior foi que diante da modernidade de Brasília, o colonial cuiabano aparentou-se feio. Daí para demolições sem critério, foi muito fácil. A própria catedral do Senhor Bom Jesus de Cuiabá, foi demolida num movimento curioso. De um lado, ele pregava a modernidade e a catedral era um prédio antigo e “feio”. De outro, uma resistência social pequena que não conseguiu impedir a insanidade. Daí por diante, casarões caíram um a um e no lugar dos velhos quintais, surgiram os prédios comerciais, num movimento puxado pelos bancos, depois pelos edifícios residenciais e comerciais. Quando se restaura um prédio histórico, está se restaurando parte da alma da cidade, que se perdeu nesse progresso econômico das quatro últimas décadas e meia. Nenhuma cidade vive sem alma. Aos poucos esse comportamento de retomar a alma cuiabana cresce em restaurações de igrejas e de prédios históricos, como o Palácio da Instrução, por exemplo. O belo não é uma definição estética. É uma percepção de alma, como disse-me o secretário de Cultura, João Carlos Ferreira, animado com a nova Casa Barão de Melgaço. “Estamos restaurando a alma cuiabana histórica”, acredita. Não há porque duvidar!
Editado por Giulio Sanmartini às 7/05/2006 03:23:00 AM |
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