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LULA PRESIDENTE: BRASIL DECENTE?
Por Paulo G. M. de Moura, cientista político

Dizem que o eleitor brasileiro não tem memória. Não é verdade. O problema de quem diz isso é apenas incompreensão sobre como funciona a memória do povo. Se perguntarem aos eleitores brasileiros em quem votaram para deputado na última eleição, certamente uma expressiva maioria não se lembrará.
Isso acontece porque a mídia foca o debate eleitoral na disputa pelos cargos majoritários, em torno dos quais se concentram os grandes conflitos que fazem manchetes e vendem jornais. Oitenta por cento ou mais do total de eleitores só começam a se preocupar em quem vão votar para o parlamento cerca de vinte dias antes da eleição. Boa parte dos eleitores, decide na hora de votar, senão, um dia antes. Aí, fica difícil lembrar em que se votou.
Mas o eleitor retém sim, na memória, suas experiências pregressas de satisfação ou frustração com os políticos que elege. Dificilmente um político que tentasse outra vez a estratégia que Collor usou em 1989 se elegeria no Brasil. O eleitor de 1998 reelegeu FHC porque não esqueceu dos benefícios da estabilidade monetária. O eleitor de 2002 derrotou o candidato de FHC porque não esqueceu que foi FHC quem desvalorizou o Real provocando perdas econômicas significativas aos cidadãos.
Um dos segredos da dianteira que Lula ostenta nas pesquisas, nesse contexto, provém do fato de que ele está conseguindo vender a ilusão de que a esperança venceu o medo; de que com Lula presidente, temos um Brasil mais decente. Ou seja, na memória de parcela expressiva dos brasileiros, Lula está honrando seu compromisso de 2002.
O que torna essa ilusão possível?
O slogan “Brasil decente; Lula presidente”, recorreu ao conceito de decência numa acepção mais ampla do termo e não apenas relacionando-se ao aspecto da corrupção das autoridades públicas que o petismo criticava. Um Brasil decente, seria aquele em que a pobreza estaria sendo diminuída e em que a maioria da população, finalmente, teria suas necessidades correspondidas por um governante que veio do povo.
Parte da sustentação que Lula desfruta hoje junto aos seus eleitores provém do fato de que a população está comprando a percepção de que, nesse aspecto da melhoria das condições de vida da população e da redução dos índices de pobreza, Lula estaria sim cumprindo tudo aquilo que o discurso petista vendeu ao longo de cerca de 25 anos.
Os alicerces desse engodo são, por um lado, a sobrevalorização do Real frente ao dólar; por outro, o “bolsa-esmola” e seu efeito efêmero sobre as estatísticas socioeconômicas da pobreza no país. O ganho de renda proporcionado pela valorização da moeda turbina o poder de compra da classe média e das classes populares causando uma fugaz impressão de bem-estar material. A esmola mensal do governo no bolso de 9 milhões de famílias compra a falsa sensação de dignidade de gente que antes vivia para pensar em como fazer a refeição seguinte, e agora vive da provisória “caridade” maquiavélica oficial.
Desmontar essa farsa, pelo menos perante a maioria de cidadãos decentes que habitam esse país, é tarefa estratégica imprescindível para o processo de construção da derrota eleitoral do molusco em 2006. A luta pelo desmascaramento dessa farsa passa pelo marketing de Geraldo Alckmin na TV, mas começa desde já, na luta política diária que a militância do PFL e do PSDB, ou mesmo que gente inteligente sem alinhamento partidário leva, nas páginas dos jornais, nas salas de aula e nas esquinas da nação.
Pela mesma razão que FHC foi obrigado a desvalorizar o Real logo após sua reeleição, o próximo presidente, seja ele Lula ou Alckmin, terá de fazer o mesmo ou quebra a economia do país. A agricultura já quebrou. As indústrias calçadista e moveleira também. O Estado brasileiro também não tem como seguir distribuindo dinheiro indiscriminadamente para os pobres. As iniciativas para acabar com essa situação de dependência dos pobres em relação à esmola do governo, não foram tomadas. Também não pode sustentar aumentos salariais exorbitantes e ilegais ao funcionalismo, dado sua crise estrutural.
O Real valorizado é uma farsa de curta duração. O “bolsa-esmola” é um fraude!
Dinheiro no bolso é um argumento muito mais forte do que mil palavras. Mas, supor que entre aqueles que hoje manifestam intenção de voto em Lula só existem eleitores corruptos que vendem o voto e/ou são adeptos da teoria do “rouba mas faz”, é um erro. Tem muita gente decente sendo enganada pela avalanche midiática que o governo fabricou nos últimos meses. Essa ilusão não se sustenta mais agora que a lei eleitoral tolhe limita o uso da máquina pública para autopromoção dos governantes-candidatos.
Tenho certeza de que, com os argumentos certos, é possível desentorpecer uma parcela significativa dos eleitores bombardeados pela overdose de Lula nos últimos tempos, tal como os eleitores do referendo das armas passaram meses ouvindo SIM, até que tiveram oportunidade de ouvir os argumentos do NÃO.
O Brasil não ficou mais decente com Lula presidente. Ocorreu o contrário. E a oposição só não comprova isso aos eleitores, se for muito incompetente. Sem a força do povo; não vai ter essa de Lula de novo.


Editado por Adriana   às   7/05/2006 10:50:00 AM      |