Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
É VIOLÊNCIA QUE GERA VIOLÊNCIA?
Por Ralph J. Hofmann

Dos meus 12-13 anos de idade em diante eu ouvi as pessoas apresentarem o policial inglês, o “Bobby” como exemplar. O policial inglês não portava armas, conhecia algo sobre lutar com as mãos mas essencialmente dominava bandidos com sua personalidade. Em casos excepcionais o Comissário de Polícia autorizava a distribuição de armas. Havia 20 assassinatos ao ano na Inglaterra, mesmo sendo Londres. na década de cinqüenta, a maior ou segunda maior cidade da Terra.
O próprio assalto ao trem do Ronald Biggs e amigos foi executado por homens sem armas de fogo. Apenas usavam cassetetes. O crime foi considerado de extrema gravidade por terem desferido um golpe num ferroviário que ficou com seqüelas pelo resto da vida.
Naquela época ao vermos um sujeito ferir mortalmente outra pessoa em um filme sentíamos que essa pessoa não tinha volta. Havia ultrapassado o limite da decência. E isto não só na Inglaterra. No Brasil também. Aquelas pessoas que não estavam envolvidas numa vida de crime tinham contato com a morte violenta no máximo em brigas entre famílias como as de Exú ou brigas em bailes. Isso inclusive no Rio Grande do Sul, onde até os anos 30 a seqüência da maioria de eleições era uma Guerra Civil localizada, e onde a maior parte da população andava armada.
Mas a partir dos anos setenta uma tendência a crimes com mão armada e à violência gratuita mudou o clima até na Inglaterra. O submundo, antigamente dominado por larápios ingleses, escoceses e irlandeses, passou a ser compartilhado por estes com jamaicanos, hindus, paquistaneses, nigerianos e muitos outros. Aqui não estou sendo racista. Apenas estou dizendo que havia quadrilhas de pessoas com sua própria visão da violência. Acharam uma sociedade que para eles era de sonho. Uma sociedade de jugular exposta, virtualmente desarmada. Dentro de uma geração o velho larápio britânico aumentou sua violência também.
Mas há um fator importante. O fora-da-lei inglês segue evitando confrontos com a polícia. Raramente abre fogo contra policiais ao ser preso. Sabe que se matar um policial as coisas correrão muito pior na próxima vez que for preso. Caçar policiais? Loucura. Mesmo os juizes mais corações-moles irão aplicar as penas máximas.
Além disto, eles têm consciência de que escolheram o lado da lei em que existe a possibilidade de prisão. Faz parte dos riscos e benefícios do seu plano da carreira.
Não sentem algum ódio especial pelos policiais e carcereiros. Cada qual na sua função.
Acho que até certo ponto as coisas funcionavam da mesma forma aqui. Mesmo com a corrupção policial, bandido e policial, cada qual ocupava sua esfera.
O que estamos vendo aqui hoje é totalmente desconhecido em qualquer país com alguma pretensão à civilização. Uma caçada, não a policiais excepcionalmente violentos ou a carcereiros especialmente repressores, mas a policiais e carcereiros como uma das coletividades que compõem essa sociedade. E a coletividade dos criminosos foi convencida que pode e deve confrontar a polícia, que vai ter nisto alguma vantagem e que não será punida por isto.
Estão informando quem manda no pedaço!
E mandam mesmo. Pelo menos enquanto a sociedade obedecer as regras a que concordou em se sujeitar. Colmo disse o tal de Marcola ou Marquito: “Posso mandar matar quem eu quiser e vocês não podem entrar na prisão atirando.”
Mas na medida que hoje a chave do cofre do país está cada vez mais na mão dos bandidos será que isso durará? O país realmente está desarmado ante essa escória criminosa, tanto nos altos escalões da República quanto nas melhores celas dos presídios? Os policiais e carcereiros podem ser corrompidos a ponto de não atentarem para o assassinato de dezenas de colegas?
O Presidente Figueiredo um dia disse que ainda sentiríamos saudade dele. Achávamos que seu tempo tinha passado. Mesmo que tivéssemos um certo apreço por aquele homem direto e franco sabíamos que as coisas deviam mudar, que vinte e tantos anos daquele regime tinham esgotado a fórmula, que o país precisavam de novos enfoques, que os gurus da economia do regime haviam causado um grande atraso. Mas mudar por isto que vemos hoje?
Ridículo!


Editado por Adriana   às   7/13/2006 01:49:00 AM      |