Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
MUNDINHO E O CHEQUE DO ARDILÃO
Por Adriana Vandoni

Mundinho garoto esforçado, não fugia da labuta, queria ser respeitado e ter seu nome configurado com honra de autoridade. Ainda nem tinha idade quando no mundo saiu em busca de espaço onde pudesse ver prosperar seu trabalho.
Chegou enfim num lugarejo, lá no meio dos confins. Pó era o que mais tinha e na verdade, toda uma cidade por fazer. Com o tempo Mundinho ajudou a tornar aquilo uma cidade de verdade, e com toda dificuldade, Mundinho percebeu que as autoridades, lá só chegavam quando queriam os votos da cidade. Pensou bem na situação e descobriu um filão: vou fazer do meu carro um veículo de som para alugar aos políticos na época da eleição.
Assim Mundinho vivia, a cada dois anos uma trabalheira que lhe rendia uma ganhadia, que também lhe trazia outra benfeitoria. Mundinho estava se tornando popular entre a população. Aí estava o outro filão. Seria mais um edil no meio da edilidade e representaria o povo daquela cidade. Nunca deixou seu veículo que te dava notoriedade, além do dinheirão a cada eleição.
Assim Mundinho seguia até que numa eleição apareceu um lobão travestido de cordeirinho. Político da capital, para ele seria uma honra atender tal candidato. Ganharia seu tostão e faria seu cartaz com o nobre deputado. Não sabia o Mundinho que o nobre era farsante e no lugar do serviço lhe tornar um honrado ficaria era irremunerado.
O nobre cabra era safado e lhe pagou com um furado, deu-lhe um cheque falsificado. Pegou um cheque antigo que tinha lhe dado um amigo, passou ao pobre Mundinho como se fosse normal. O cheque já tinha seis anos! Isso não pareceu problema, bastou o cabra safado, uma perninha subir e do zero fez um seis.
Mas como diziam em sua terra: Mundinho, bote sentido que bandido se pega nos detalhes.
E foi num detalhe que o nobre parlamentar se mostrou um trapaceiro desastrado. Os cheques eram numerados e assim que chegou ao banco o gerente achou estranho. Chamou o perito em fraude que lhe deu o veredicto: “esse cheque, meu gerente, foi falsificado. Pegue logo o safado antes que faça de novo, vítima alguém do povo”.
Era tarde demais. O safado estava eleito e o gerente sem efeito, contou ao cidadão que um dia, lá atrás, também acreditou no nobre roubalhão.
O dono do cheque possesso, num misto de indignação e traição, tomou a decisão. Foi até uma autoridade que podia dar cabimento a tamanho descaramento. Entregou cópia do cheque e pediu que se apurasse em cima do cidadão que apareceu com a fraude.
É a vida faz dessas coisas e o pobre do Mundinho pode ser incriminado por estelionato e falsificação. Foi ele que fez o saque e terá de responder de onde apareceu o cheque adulterado.
Isso pode ir muito longe, pois o nome de Mundinho nem aparece na prestação, o nobre salafrário não fez nem declaração que de fato usou seu som.
Mundinho tá enrolado. Se insistir na proteção a esse espertalhão, responderá sozinho por tamanha transgressão. De nada adiantará, do nome do ardilão, só citar as iniciais, bem sabe ele que de bandido tem que pegar as digitais.
Esse é o mundo em que vive o Mundinho, rapaz que enfrenta labuta e até no revés quer se fazer cidadão. Mas Mundinho prete atenção, cidadão que se preze não encobre ladrão. Mundinho deve entender que o nobre salafrário que já o trapaceou, quando não achar outro Mundinho vai roubar é do erário e lesar toda nação.


Editado por Adriana   às   11/07/2006 03:22:00 PM      |