Tem mais. No fundo, tanto eu quanto eles - por menos inteligentes que sejam - sabemos que os fins são egoístas, e não altruístas. Mas a auto-ilusão de que cumprem um nobre dever os faz avançar. Essa hipocrisia é reconfortante.
Além disso, agarram-se à certeza de que a Justiça é morosa e a grande massa da população, desinformada. Acreditam na impunidade ou, na pior das hipóteses, na punição branda. Sabem que poderão, inclusive, retornar à vida pública nos ombros do povo, eleitos. Muitos voltaram este ano.
Quanto a mim, estou absolutamente tranqüilo. Virei um mito, nada me atinge. Posso ser um mandante despreocupado, o mentor intelectual (?) de tudo, pois o povo (aquela massa desinformada) já decidiu pela minha inimputabilidade.
Conto ainda com um atributo pessoal singular, do qual muito me orgulho. Eu sou cínico. Quando me acusam, inverto o ônus da prova e me faço de vítima de calúnia.
Esse traço de minha personalidade é tão marcante que alguns de meus mais chegados auxiliares e colaboradores procuram copiá-lo, às vezes com razoável sucesso. Conto também com certa benevolência de parte da imprensa que, pretendendo ser isenta, dá tratamento idêntico a mim e aos meus oponentes, a despeito de minhas mentiras.
Com o melhor dos propósitos, estão procurando garantir equilíbrio ao noticiário. Ainda não perceberam que não existe nada mais injusto do que tratar de forma igual os desiguais. Ótimo.
Em suma, eu sou uma farsa, meu grupo é corrupto. Mas conto com seu voto. Vote em mim!