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PORQUE FALTOU VOTO
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Melhor diagnóstico não houve do que aquele feito pelo próprio presidente Lula, sobre não ter sido eleito no primeiro turno: faltou voto... A partir daí, a prospecção e a dúvida são livres. Por que faltou? Faltará de novo?
No cerne da questão situa-se o PT. Graças às trapalhadas do partido, deixaram de ser acionadas umas centenas de milhares de teclas essenciais para a conquista do segundo mandato no primeiro turno.
Não se fala de votos dos militantes, é claro, a maioria disposta a engolir em seco e a preferir Lula até a eternidade. A referência é para o cidadão da classe média, em 2002 sequioso de mudanças e até mesmo compreensivo por elas não o terem favorecido nos primeiros quatro anos, mas sempre esperançoso. Chocado com a corrupção, e mesmo sem preferir maciçamente Geraldo Alckmin, ele deixou de votar em Lula, preferindo Heloísa Helena, Cristóvam Buarque ou o voto nulo e em branco.
PT perdeu o bonde da História
Qual o papel a ser desempenhado pelo PT no novo governo, no qual o PT não constituirá mais fator predominante? Encontra-se em queda o petismo, emerge como alternativa o lulismo, que sobrou apesar dos trancos e barrancos. O presidente, ao constituir sua nova equipe, não se valerá mais de seu partido, nos limites em que se valeu em janeiro de 2003. Claro que Tarso Genro, Dilma Rousseff, Patrus Ananias, Waldir Pires, Luís Dulci e Jorge Viana terão lugar garantido, mas o novo governo deverá abrir-se em condomínio para outras forças.
Crescerá a influência de não petistas como Ciro Gomes, Nelson Jobim, Renan Calheiros, José Sarney, Eunício Oliveira, Aldo Rebello, Geddel Vieira Lima e muitos mais. Passou a época de José Dirceu, Luiz Gushiken, José Genoíno, Delúbio Soares, Silvinho e Duda Mendonça, integrantes da primeira leva defenestrada, assim como dos que vieram depois, igualmente lambusados, como Ricardo Berzoini, Aloísio Mercadante, Lorenzetti e outros.
Mais importante ainda, não haverá "núcleo duro" no Palácio do Planalto. A previsão é de um governo dirigido cada vez mais por Lula, ainda que com indecifráveis novos ministros recrutados em outros partidos e na sociedade civil.
Um bem ou um mal? Depende do ângulo de onde se observe a provável reeleição. Aberturas são sempre benéficas em qualquer empreitada humana, ainda que dificultem muito mais o encontro de soluções comuns. Os novos aliados do presidente cobrarão preços variados. Os mais conservadores trabalharão para evitar mudanças sensíveis na política econômica, hipótese hoje mais ou menos remota, antes esperada.
Existirão também aqueles do bloco da goela aberta, candidatos a donatários de ministérios de porteira fechada, sem a incômoda presença da designação forçada de petistas em cargos chave. Não se esqueça, da mesma forma, o risco de Lula, isolado e sem eminências pardas ao seu redor, centralizar ainda mais as decisões e transformar-se, além do que já é, no dono de verdades absolutas. Em boa coisa esse fenômeno não dará.
Uma conclusão parece certa: o PT perdeu o bonde da História. Os tais vinte ou trinta anos de poder saíram pelo ralo. Já se fala que o candidato do presidente Lula, em 2010, pode ser Ciro Gomes. A menos que... A menos que, cala-te boca...
Cuidado
Poderá alterar a tendência que sinaliza a vitória de Lula? Depende. Escorregadelas poderão acontecer, estando tanto Lula quanto Geraldo mais preocupados em não errar do que em acertar. Sabe o médico que para virar o jogo precisará continuar batendo no torneiro-mecânico, mas com cuidado para não transformá-lo em vítima. Deverá, também, dedicar seus pronunciamentos a pormenorizar programas capazes de constituir-se em críticas ao atual governo.
Já o presidente precisará empenhar-se em mostrar o que fez e o que poderá fazer, sempre comparando a sua administração com os oito anos anteriores. Estará a campanha afastada das baixarias? Esse parece ser o desejo dos candidatos, mas sempre ficará em aberto o perigo de perderem o controle ou caírem em armadilhas do adversário ou da imprensa. Todo cuidado é pouco.


Editado por Giulio Sanmartini   às   10/17/2006 04:46:00 AM      |