Por Karen Wallenhaupt e-mail: karen@voxcomunica.com.br
Segunda-feira, 09 de outubro. Hoje. Vocês não fazem idéia de como é escrever no hoje real, que é este momento no qual estou digitando, que é sexta-feira, 06 de outubro, sabendo que isso só será publicado hoje, agora já transformado em segunda-feira. É um exercício mental grande, desafiador e arriscado.
Mas, vamos lá. Neste momento, estou plena de esperança. Haverá segundo turno! Temos a chance de não ficarmos novamente reféns do “Senhor Sabe Nada e Não Viu Nada” e de sua quadrilha. Senhor demite um a um, para safar-se, todos que o rodeiam, aos quais adjetiva de aloprados, insensatos de a Não que os outros sejam santos em sua totalidade. Já frisei que não sou maniqueísta, separando veementemente as pessoas em boas e más. Todos temos um pouco das duas partes, em maior ou menor teor. Mas, vamos lá. Nosso presidente tem razão. A elite brasileira o persegue. Este é o tema principal do que hoje escrevo. Li, de autoria da Cláudia Laitano, a crônica “Leitores (e eleitores)”. Certeiro. Fecha tudo. Me encantei. Fiquei deslumbrada por ser agraciada com seu texto, que veio oferecer-me armas, argumentos, como que complementando o meu pensar. A Cláudia – que desaforo eu me permitir esta intimidade – discorre na crônica acima citada, sobre o fascinante livro O Último Leitor, do ensaísta argentino Ricardo Piglia. “O sujeito que lê (...) é alguém que enfrenta o mundo numa relação que em princípio é mediada por um tipo específico de saber. A leitura funciona como modelo geral de construção de sentido”. Estas aspas anteriores são do autor do livro. Abro agora, as aspas da Cláudia: “Construção de sentido nada mais é do que o processo de fazer escolhas e colocar-se diante dos fatos de forma inteligente – atuante e não passiva, informada e não arrastada pelo senso comum ou pela fala sem substância”. Assim, concordo com o presidente: a elite o persegue. Não uma perseguiçãozinha besta, de recalque enraizado, tipo vítima, porque isso é papo pra boi dormir. A perseguição é e tem que ser real. A perseguição daqueles que não caem em conversa fiada, na qual até para Cristo o presidente se tirou. A elite que persegue este governo, e o perseguirá até a verdade vir à tona, é formada, muito além de oportunistas, por aqueles que tem acesso à informação e lê, construindo sentido. A perseguição deve ser somente esta, e não a partidária. Ao analfabeto político, cabe o discurso do poder vigente. Aos que o perseguem, sem parcialidades, somente por não serem ignorantes, o papo não cola. Cristovam Buarque tem toda a razão: a educação é a revolução. Sem ela, as grandes massas viram marionetes, alvo do populismo. (Não abrirei aspas agora, mas depois eu entrego o jogo). Sei que tôda gente fala, a tôda hora, em tôda parte: a crise é de caráter. Mas pelo visto ainda não o falam suficientemente. A prova é que não se colhem resultados, e ainda não há caráter bastante, - que digo? – não há praticamente caráter nenhum. Abro e fecho aspas agora, atrasada, mas sem apropriar-me do texto alheio. O parágrafo acima foi tirado de um artigo chamado Tempos Novos, que Rachel de Queiroz publicou na última página da extinta revista Cruzeiro, nos anos 50. Foi-me entregue por um leitor, ao qual agradeço, aqui. Refere-se aos bastidores do suicídio de Vargas, em um momento ímpar da história da política brasileira. Fora as regras de português, o que mudou? O que fizemos nestes cinqüenta e tantos anos em relação ao caráter? Conclamo a elite, todos os que dispõem do poder de construção de sentido, para que, sendo qual for o resultado destas eleições, não fazer calar a voz do caráter. Quem sabe Raquel de Queiroz ainda possa sorrir, de onde estiver, um dia?
Editado por Adriana às 10/16/2006 04:36:00 PM |
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