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FANTASIA IDEOLÓGICA
Por Etienne Douat

Impressionante como a cortina ideológica idiotiza pessoas reconhecidamente informadas. É um fenômeno mundial, quando se trata de intelectuais hospedados em países desenvolvidos, em universidades que são parâmetro de excelência e aceitam abrigar exóticos cientistas políticos do chamado "terceiro mundo", especialistas em vomitar teorias que procuram explicar a virtude de casos como o de Lula do Brasil, Fidel, Moralles da Bolívia, ou Chaves da Venezuela, culpando "as elites de direita" (O que exatamente significa isto? ), por todos os males do mundo, mas protegidos, alimentados e até vivendo em relativo luxo às custas do liberalismo econômico que tanto condenam, recebendo deliciosos salários em dólares, ou euros, bem longe dos seus teóricos "paraísos" políticos, tipo Cuba, Venezuela ou Bolívia.
Isso talvez se explique por conta de uma espécie de frustração intelectual, em que o sonho "romântico-ideólogo-socialista" (não perguntem o que é isso), ruiu com a cortina de ferro, em 88, e foi enterrado com o engajamento da China ao clube das economias capitalistas, cujo governo, inteligentemente, diga-se, jura fidelidade à ideologia do "Grande Timoneiro Mao", ainda útil para manter os privilégios da "Nomenklatura", sem evitar que se deliciem com os deliciosos resultados da política econômica capitalista que os sustenta.
E olhem que diferentemente da Coréia do Norte, com seu exótico líder, Kim Jong-Il, uma espécie de filhote mal parido de Mao-Tsé-Tung, o real objetivo da China é enriquecer, rapidamente, o máximo possível. Para isso trai os sagrados ensinamentos de Mao, num escandaloso "romance capitalista" extra-conjugal com os EUA e a CEE. Aos felizes amantes sócio-capitalistas, ou capital-socialistas, como queiram, a conveniente manutenção da "normalidade" política da amada, que ainda mantém sob o "relho" um povo de bilhões de miseráveis, excluídos das "ilhas" capitalistas, mantido em regime de semi-escravidão, refém de migalhas, mas tremendamente "barato" na produção dos "mimos" entregues na casa da feliz família "oficial" totalmente anestesiada pelo êxtase do acesso, cada vez mais abundante, a produtos baratos e completamente alienada da "desendustrialização" que ocorre no seu quintal.
Nada errado com isso, já que é da natureza humana procurar o conforto, a melhora da sua qualidade de vida. Dizem os "filósofos populares" que, na alcova, moral é a virtude da "sacanagem". Assim, os guardiões da democracia e dos direitos humanos conseguem justificar a hipocrisia moral que pregam na diplomacia. Dos outros exigem que façam o "bem". Não dão a fórmula, mas se arrogam a prerrogativa de julgar qual o "bem" que é bom e qual o "bem" é mau, de acordo com os seus interesses políticos. No caso da China, "amada de alcova", perdoam os "desvios" políticos na democracia e nos direitos humanos, e os econômicos, dos salários de fome e do controle do câmbio, por exemplo, desde que sejam convidados a participar da "festa". Isso se sustenta por quanto tempo? Essa é outra estória, até porquê não se sabe quanto vai durar o "prazer" no relacionamento.
Talvez dessa confusão toda, possa-se tirar duas lições: Primeira, tão imoral quanto virtuosa, é que o liberalismo econômico, o capitalismo e o lucro, bendito lucro, fazem bem, muito bem e, por isso, todos os adoram. Segunda, tão inteligente quanto pragmática, é que o papel de líder, nesse tipo de condição, só cabe ao Estado que garanta um ambiente político e institucional em que a iniciativa privada seja o motor econômico, mantendo-se o Estado exclusivamente no papel de apoiador e normatizador, e o mais longe possível da atividade econômica.
A pancada mais recente na cabeça dessas viúvas da utopia socialista, provavelmente não a última, talvez tenha sido a concessão do Prêmio Nobel da Paz ao economista-banqueiro(?) Mohammad Yunus, do Banco Grameen, de Bangladesh, que empresta dinheiro para miseráveis a 20% ao ano(??), mas que, aparentemente, conseguiu mostrar como se ensina a pescar. Pena que o nosso "grande timoneiro tupiniquim", Lula da Silva, não tenha o hábito de aprender.


Editado por Ralph J. Hofmann   às   10/16/2006 09:50:00 PM      |