Entrevistas
Arthur Virgílio
Gerson Camata
Júlio Campos
Roberto Romano - 1ª parte
Roberto Romano - 2ª parte
Eluise Dorileo Guedes
Eduardo Mahon
p&p recomenda
Textos recentes
Arquivo p&p
  
ISTO É SEM CARÁTER
Por Adriana Vandoni

Esta semana, com o escândalo da compra de um forjado dossiê pelo PT, veio a público a suspeita de que uma revista estaria por trás da negociação. A revista IstoÉ foi apontada por Gedimar como a sócia do PT no negócio com os Vedoins, “em troca ganharia a publicação de um caderno de propaganda financiado por uma grande estatal. Tal caderno é avaliado em R$ 13 milhões e sua divulgação estava suspensa desde a saída do ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci”.
A revista IstoÉ é comprometida com uma espécie de jornalismo à la carte. Criada pela Editora Três de Domingo Alzugaray, aparece como coadjuvante de quase todos os escândalos da República Lula, não por uma ligação ideológica, mas ela é um misto de Assis Chateaubriand com Mc Donalds.
ISTOÉ PT: A revista passa por uma grave crise financeira. Existem rumores de que será comprada por Nelson Tanure, proprietário do Jornal do Brasil. A negociação está sendo intermediada por ninguém menos que José Dirceu. Ele mesmo, o estrategista vaidoso e desastrado que em 2002 confidenciou ao jornalista e amigo Cid Benjamin (na época do PT): “Estou montando um serviço secreto dentro do PT. Uma coisa que será sigilosa e que as pessoas sequer saberão que existe. E esse serviço vai ficar subordinado diretamente a mim”.
Ôpa! Será que neste novo escândalo não teriam as impressões digitais do velho Daniel?
ISTOÉ PMDB e ARCANJO
: Em 2003 a Polícia Federal entrou na casa do “Comendador” Arcanjo, chefe do crime organizado em Mato Grosso, e encontrou um material interessante. Uma matéria feita pela revista IstoÉ com um extenso perfil do “Comendador”, mas que nunca foi publicada. Existiam dois faxes, um para Domingo Alzugaray e outro para Carlos Rayel, marqueteiro do PMDB e dono da Mídia Brasil, agência de publicidade. Acredita-se que Rayel teria intermediado uma negociação que “convenceu” Alzugaray a não publicar a matéria.
Essas ligações fariam Sherlock Holmes vibrar, veja bem: Rayel é marqueteiro do PMDB e em Mato Grosso fez a campanha de Carlos Bezerra (PMDB – aquele do INSS, lembram-se?) ao senado em 98. Trabalhou para Garotinho (PMDB), que na sua pré-campanha cruzou o país a bordo de um avião de Arcanjo (legalmente alugado, segundo eles). Rayel foi assessor de imprensa de Orestes Quércia (PMDB) que é muito amigo de Alzugaray e de Carlos Bezerra e hoje é candidato ao governo de São Paulo. Quércia apresentou em seu horário político a capa da revista IstoÉ na sexta-feira (15/09), antes da revista chegar às bancas. Rayel já foi investigado pelo Ministério Público por suspeita de enriquecimento ilícito.
ISTOÉ MARCOS VALÉRIO: Em 2004 a revista IstoÉ fez uma entrevista com Fernanda Karina, secretária de Marcos Valério, onde ela contava tudo o que sabia. Na época Alzugaray teve que explicar publicamente que não ofereceu dinheiro pela entrevista. Não convenceu ninguém! Em setembro do mesmo ano, avisado por Gilberto Mansur sobre a entrevista da secretária, Marcos Valério foi visitar Alzugaray, acompanhado de Mansur. A conversa foi tão boa que Valério “convenceu” Alzugaray de não foi publicar a matéria, mas disse que “foi uma decisão editorial”. Mansur trabalhou na IstoÉ entre 1977 e 1984 e em março de 2004 recebeu R$ 300 mil da agência mineira SMPB, de Marcos Valério, por “trabalhos de assessoria”.
ISTOÉ SCHIN: Em 2005, a cervejaria Schincariol foi pega pela Polícia Federal por fraude fiscal e precisava reconstruir sua imagem. Em interceptações telefônicas feitas pela PF aparecem conversas sintomáticas. Numa delas Luiz Lara, publicitário da Schincariol, diz ao dono da cervejaria: “a revista IstoÉ está com problemas de caixa. Se você colocar na mão dele R$500 mil, R$1 milhão na mão dele [Alzugaray], o dinheiro que for, agora, nesta próxima semana,..., você pode contar com ele no ano que vem”. Logo depois a IstoÉ Dinheiro saiu com reportagem de capa com o título “A virada da Schin”.
Existe uma infinidade de causos envolvendo a revista IstoÉ e a Editora Três, todos relacionados ao que se pode chamar de jornalismo de resultado. A personalidade da revista é meio Mc Donalds, rápida e de qualidade nutricional duvidosa. É também meio Chateaubriand, que se valia dos seus veículos para achacar e chantagear qualquer um.
A ditadura nos deixou de herança uma imprensa que ainda não entendeu bem o seu papel e a sua importância para a democracia. E em qualquer lugar do mundo, a democracia será sempre o reflexo da imprensa que possui.
A revista IstoÉ é um exemplo a não ser seguido, é uma revista sem caráter e fadada ao fracasso.


Editado por Adriana   às   9/23/2006 11:30:00 AM      |