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DOIS EM UM
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Antes do que se imaginava, aconteceu. No fim de semana, em Canoas, Rio Grande do Sul, integraram-se o presidente e o candidato numa só pessoa. Por enquanto, vale registrar que em conversa com jornalistas, no café da manhã do hotel onde se hospedou, o candidato Lula pela primeira vez de público admitiu ser o presidente, enquanto o presidente mesclou-se ao candidato. Perguntará o cidadão comum que grande descoberta é essa, já que ambos, presidente e candidato, mostram-se inseparáveis desde a posse, em janeiro de 2003. Ora, quem se insurgia contra a simbiose era o próprio, ou melhor, eram as duas pessoas pretendendo resistir ao fato de serem uma só.
Lambança partidária
A partir de Canoas, não resistem mais. Reconheceram constituir-se apenas numa única identidade, curvando-se à natureza das coisas. Por que se conclui assim?
Porque o candidato disse aos jornalistas, textualmente: "Depois das eleições o presidente da República não tem porque preterir ninguém. Iremos conversar com todas as forças políticas, porque eu acho que nós chegamos num momento da História do Brasil em que as pessoas precisam dedicar três quartos do seu mandato pensando no Brasil e um quarto pensando na próxima eleição. Não é possível que se passe quatro anos brigando e não se leve em conta que o Brasil precisa de uma oportunidade, de uma chance".
Duas lições fluem desse diagnóstico singelo onde Lula deixou claro que vai conversar com todos os partidos e todas as forças políticas, depois da reeleição:
A primeira, de que pode vir por aí a maior lambança partidária das últimas décadas, a título da promoção da reforma política. Se vai conversar com o PSDB, por exemplo - e por que não com o PFL? -, o que pretenderá o presidente-candidato? Formar uma base parlamentar ampla e sólida, onde não se sinta prisioneiro do PMDB, como as coisas indicavam até há pouco que aconteceria. Se é para cooptar até mesmo tucanos e liberais, ainda que não todos, obviamente, o resultado será abrir-lhes participação no futuro governo. Há muito se diz não haver almoço de graça.
A segunda lição surge mais sibilina. Nos três quartos do novo mandato Lula promoverá a reunião de quantas forças e partidos conseguir - e não será difícil obter sucesso na empreitada. No último quarto... Bem, no último quarto o presidente vai liberar outra vez a pessoa do candidato, que nunca deixou de existir. O singular é que o mistério de um deus em duas pessoas revelará a terceira, também presente desde o início. No caso, com denominações diversas: imperador, rei, protetor perpétuo da nação, guia genial dos povos, caudilho ou (cala-te, boca...).



Editado por Giulio Sanmartini   às   9/12/2006 01:38:00 AM      |