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AS VERDADEIRAS VOZES
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Daqui até as eleições, o Congresso entra em recesso branco. Nada de importante será tratado neste período até 1º de outubro e umas poucas comissões continuarão seus trabalhos. Assim mesmo com as velas recolhidas. Mas os salários de deputados e senadores continuarão intocados, como se tivessem cumprido o pleno período de funcionamento. Pode parecer mais uma crítica às tantas que os parlamentares têm recebido, mas trata-se apenas da mera observação de que é um excelente emprego. Afinal, o que não falta é gente para disputar uma das 513 cadeiras da Câmara ou das 81 do Senado.
E gente que, como a propaganda eleitoral tem mostrado, em sua maioria não sabe fazer um O circulando um copo. São figuras que nem podem alegar que lhes falta tempo na TV para passar projetos ao eleitor: simplesmente lhes falta objetivo. Ou melhor, isto eles têm. O que não têm é conteúdo.
Claro que não são todos os que não merecem um pingo de confiança. Têm os bons, sim, mas em triste desproporção. Falando somente no Estado do Rio, duro saber que nossa representação só estará salva do naufrágio por causa de uns poucos. Impressionante como a bancada fluminense quer se fazer representar por personagens que vão desde a sobremesa ao clube de coração da colônia portuguesa. O restante do Brasil não deve estar tão melhor assim.
O argumento de que o Congresso reflete a sociedade é mentiroso. É dividir uma culpa que a grande massa trabalhadora não tem. Reflete, antes de mais nada, as elites e a falta de valores que elas não têm. O jogo pesado da política e da eleição não é para amadores e quem se submete a ele dificilmente não se deixa contaminar. É muito dinheiro, é muita influência, uma festa para a qual o povo não é convidado. Sequer entra pela porta dos fundos: fica do lado de fora esperando as sobras.
E quando resolve protestar, o faz de maneira ingênua, quase burra. Ótimo para a turma que se serve disso: adorariam que tivesse vingado a campanha de votar nulo maciçamente acreditando que, assim, as eleições seriam anuladas e outras marcadas logo em seguida. Com que argumentos? Os mais pífios, pois não se percebeu quê: 1) caso isto fosse verdade, os mesmos disputariam o pleito adicional, e o seguinte, o seguinte, ad eternum; 2) o voto nulo favorece geralmente o candidato bom de grana, que não tem pruridos em gastar fábulas para entrar ou continuar na vida pública.
Até para tais armadilhas há que se estar atento. Numa teoria conspiratória, parece mesmo que gente mal-intencionada espalhou essa falácia confiando que os eleitores preguiçosos fizessem o movimento de manada e conduzissem o restante da população. Mas a mistificação felizmente foi posta abaixo a tempo, graças à atuação vigilante de alguns setores da sociedade. Estes, sim, as verdadeiras vozes do cidadão.


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/12/2006 01:30:00 AM      |