Por Percival Puggina no Jornal do Comércio Quantos dentre os sem-terra que buscam assentamento chegaram a essa condição depois de terem abandonado alguma propriedade pessoal ou familiar? Não sei, até porque, surpreendentemente, ninguém parece ter julgado relevante elaborar uma pesquisa sobre o tema. O que sim, sei, é que o Brasil vive uma situação paradoxal: quem não tem terra sonha com um pedaço de chão que lhe garanta o sustento; quem a tem amarga prejuízos e dívidas. Muitos daqueles são futuros assentados; muitos destes são futuros desassentados. Aqueles esperam que a posse da terra lhes quebre o galho; estes gostariam muito de mudar de ramo. Quem está dentro quer sair; quem está fora quer entrar. Ao canto de guerra dos sem-terra somam-se os gritos da terra dos com-terra. Durma-se com um barulho desses.
O governo da União se empenha em atrapalhar a vida de quem tem e em ajudar a de quem não tem. Os que têm terra e nela trabalham enfrentam encargos tributários, entraves burocráticos, juros elevados, câmbio ruim e a concorrência dos países que subsidiam sua atividade rural. São os atuais assentados e futuros desassentados. Os que não têm terra sabem que, mais dia menos dia, receberão do governo áreas para se instalar, que terão um auxílio financeiro para iniciar sua produção e que enquanto esperam por tudo isso receberão pensão do poder público. São os atuais desassentados e futuros assentados. É tudo tão contraditório e extravagante que até parece piada. Mas não é. É o Brasil real, com assentamentos piedosos e desassentamentos impiedosos, como resultado da ideologização da atividade rural. Incompreensivelmente, o governo Lula também surfa sobre a indigência a que conduziu o agronegócio brasileiro que terá perdido, no acumulado de quatro anos, o equivalente a um terço da safra de 2002. Mas enquanto o produtor perde com a âncora verde da comida barata, Lula se prepara para mais quatro anos no seu esplêndido assentamento.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/11/2006 01:56:00 AM |
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