Por Xico Vargas em no mínimo No mundo, hospitais universitários são nichos das terapias revolucionárias, dos rótulos que designam medicina de ponta e excelência médica. No Rio de Janeiro já foi assim o hospital Pedro Ernesto, da Uerj. Hoje, vitimado pela epidemia de desvio de recursos da saúde disseminada pela administração Garotinho, sequer tem comida para os pacientes. Quando a governadora passou a mão no dinheiro para montar restaurantes populares houve quem acreditasse nas sandices que dizia: “Comida também é saúde”. Como se a doença predominante no Estado fosse desnutrição ou se almoço por um real tivesse a propriedade imunizante das vacinas. A conta agora está aí para ser paga pela população. Mais uma vez. No Pedro Ernesto, no Maracanã, acompanhantes dos pacientes fazem vaquinhas para comprar-lhes biscoitos – é preciso dizer o que isso significa para os diabéticos? E a falta de leite desnatado para os cardíacos? No Pedro II, em Santa Cruz, mulheres dão à luz pelas escadas, porque a maternidade é no 7º andar e os quatro elevadores quebraram por falta de manutenção.
Isso para ficar apenas em dois hospitais da rede, um no meio da cidade e um na periferia. Mas não é muito diferente no hospital dos Servidores, no bairro da Gamboa – onde um tomógrafo está fora de combate há oito meses – ou no Albert Schwartz, no Rocha Faria, no São Sebastião, ou no interior. A extensão desse desastre tem a mesma medida da manipulação feita no Orçamento. A comida acabou e os equipamentos quebraram porque as contas não foram pagas. Ou a despensa do Pedro Ernesto esvaziou porque o encarregado esqueceu de ir ao supermercado? Bem ao contrário. O diretor do hospital, Carlos Eduardo de Andrade Coelho, mostra as cópias de 15 (quinze) ofícios que enviou à secretaria de Fazenda em seis meses, pedindo o pagamento dos fornecedores. São quatro milhões de reais dos quais o hospital não viu a cor. Em compensação, não faltou dinheiro para despejar, através da Fesp, nas Ongs de endereço falso que ajudaram a fornir o cofrinho da fracassada pré-campanha de Garotinho, o marido, à presidência da República. A verba, que rareou na hora de consertar elevadores e tomógrafos, sobrou para deitar asfalto onde prefeitos apóiam a candidatura de Pudim, a última bóia das aspirações políticas do casal Garotinho. Nada disso, porém, os Garotinho prepararam no recesso do lar. Foi tudo feito com a cumplicidade dos deputados que compuseram a maioria do governo nessa legislatura. Desde a operação abafa, há três anos, na CPI do Propinoduto (aquela inspirada na rapinagem de Silveirinha) até as denúncias sobre o sumiço da grana do Orçamento, a maioria na Assembléia ajudou a construir sa folha corrida dos governadores. E por pouco – bem pouco – mais esse crime não passa à história sem autor. Estava tudo armado para que a dinamite fosse amarrada à cintura do vice, Luiz Paulo Conde. Com o marido em campanha para a presidência, a governadora deixaria a cadeira para disputar o Senado. O presidente da Assembléia, Jorge Picciani, para quem fora prometida a vaga, ficaria na estrada. Conde, bom moço, governaria até o final em troca de juras de amor na campanha à prefeitura em 2008. Quando viu o tamanho da encrenca, Conde mandou o acordo pelos ares. Ameaçou botar a boca no mundo, candidatar-se à reeleição e torpedear Sérgio Cabral. Foi o que motivou o fico da governadora Garotinho. Para o carioca que é obrigado a buscar socorro nos serviços de saúde do Estado não muda nada, exceto saber quem abriu a porta do inferno. Os próximos quatro anos não prometem grande melhora. Cabral arriscou leve crítica à situação da Saúde, mas não foi adiante. Nem pode. Sabe que não deve falar mal dos padrinhos e que não há mágica possível. Todo o dinheiro do Estado – incluindo-se aí os royalties do petróleo – está comprometido. Para piorar, a arrecadação registra queda desde o início do ano. Resta torcer para que o casal seja enxotado de vez da política.
Editado por Giulio Sanmartini às 9/11/2006 01:54:00 AM |
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