Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Apesar de ainda não conquistado, o segundo mandato continua como tema principal. Estaria o presidente disposto a celebrar acordo e condomínio com o PMDB, sem esquecer o PT e pequenos partidos aliados, mas fechando em quinze minutos a maioria parlamentar capaz de assegurar-lhe governabilidade? Ou, desconfiado e cauteloso, andaria Lula buscando alternativas para não se tornar prisioneiro da Hidra de Sete Cabeças, ou melhor, do partido que começa a dar sinais de pretender sete ministérios de porteira fechada? Pronto para assinar contrato o PMDB já se encontra, apesar de ter se dividido, com a maioria apoiando a reeleição e pequeno contingente apostando suas fichas em Geraldo Alckmin, por garantia. De José Sarney a Renan Calheiros, de quase todos os governadores ao peso das atuais bancadas parlamentares e, em especial, contando com a legião de prefeitos - o PMDB é Lula desde criancinha. Apenas por conveniência formam com o candidato da oposição o presidente do partido, Michel Temer, o governador Joaquim Roriz e mais uns poucos.
Problemas serão imensos A questão, assim, repousa no gabinete do presidente Lula: para garantir-se, poderá acertar, ou até já acertou com os cardeais do PMDB a divisão em condomínio do segundo mandato. Semana passada ele recebeu o concílio, até com direito à presença de alguns bispos e párocos de aldeia, sequiosos de demonstrar o sentido eclético do apoio oferecido. Seria mais simples o presidente oficializar logo o casamento, apesar de perigoso, porque, se o dote é grande, o preço a pagar exigido pela noiva parece maior. Além dos sete ministérios, o partido quer participação nas decisões de governo, coisa capaz de significar atraso e retrocesso na implantação de mudanças mais profundas nos planos social e econômico. O PMDB perdeu contingentes e características de um passado voltado para a esquerda. Transformou-se em legenda de centro com inclinação para a direita, um entrave a reformas como a agrária, a educacional e, em especial, no modelo neoliberal, se é que o presidente quer promovê-las. Valeria a pena, para Lula, examinar outras opções? Auxiliares de primeiro nível, como o ministro Tarso Genro e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, acham que sim. Daí ter sido ressuscitado o termo "concertação", nada mais do que a abertura do leque de participações no novo governo a outras forças. Quais? Para começar, as maiores fatias possíveis do PSDB e partes sensíveis dos partidos de esquerda destinados a desaparecer com a cláusula de barreira. Por certo que com a presença maciça do PMDB, mas diluído. "Partidão" não tem lugar para liberais Para a mágica dar certo seria necessária uma reforma política maior do que a imaginada. Uma espécie de alforria provisória para quem quiser, entre vitoriosos de outubro, mudar de legenda e até se reagrupar para formar novos partidos. Nessa hora entra a tese esdrúxula, porque contrária ao PT, da formação de um "partidão" capaz de abrigar o "lulismo", um perigo. Nem todo o PMDB iria aderir, muito menos o PSDB. Só segmentos dos dois, significativos, mesclados ao PT, e dos que podem continuar, como PP, PL e PTB, aos que desaparecerão. Os problemas serão imensos, a começar pelo nome da sigla. Admitiria o PT deitar ao mar sua estrela e suas letras sagradas para agregações ou alterações maiores? E como ficaria o sentimento de empáfia e elitismo, a respeito de julgarem-se diferentes e incapazes de misturar-se à massa ignara, não obstante os Delúbios? A provável derrota de Alckmin pode levá-los tão ao fundo do poço, a ponto de reconhecerem a derrota ampla, desagregando o partido? Muitas esquadrilhas tucanas mostram-se prontas para trocar de hangar, acostumadas que estavam ao poder, nos oito anos de FHC. Mas os velhos pilotos não admitirão mudanças. O "partidão" cogitado não reserva lugar para liberais. Nem se o PFL quisesse, nem se o governo se mostrasse permeável a receber suas dissidências. Se há uma oposição hoje empedernida e amanhã intransigente, será do PFL. Razões políticas reservam aos liberais papel claro. Como a antiga UDN, de tantas causas libertárias e outro tanto de malandragens. Verdade? Pode ser, pois governadores como Roseana Sarney mostram-se mais próximos de Lula do que de Alckmin. Da mesma forma como parte da UDN comparecia cedo ao Catete para confraternizar-se com JK. Bom-dia, senadores ACM e Sarney, salvados do incêndio da vida...
Editado por Giulio Sanmartini às 9/11/2006 01:49:00 AM |
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