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UM TRAVO AMARGO
Por Giulio Sanmartini
O ano passado 7 de setembro caiu numa quarta feira e eu escrevi em A&P o artigo “Uma quarta feira como outra qualquer”, onde falo de uma reunião dos Brasileiros aqui de Belluno, para a comemoração do Dia da Pátria.
Esse ano resolvemos fazer o mesmo, mas .houve uma pequena dificuldade inicial para arrebanhar o povo, não havia muita vontade, mas Feltrin, O Xerife, encontrou a solução: fomos até uma cidade aqui perto, Treviso, onde há um supermercado que vende produtos brasileiros, assim comprou-se uma boa quantidade carnes, o feijão preto e tudo estava pronto, quinta à noite, no Bar da Kátia, a feijoada de Independência.
Dos que vieram no ano passado restavam pouco mais que a metade, alguns tinham mudado para outras cidades ou para outros paises da União Européia. Para quem trabalha, a vida aqui corre bem, cito o exemplo de André um gordinho de Londrina, chegou em novembro passado, ralou alguns meses, ele não tinha direito a cidadania, mas sua mulher sim, enquanto esperava ela trabalhava como faxineira em 2 bares e ele dava assistência técnica a domicílio para quem tem computador.
Quando a mulher consegui regularizar a situação ele obteve o visto de permanência, ambos trabalham em uma fábrica de óculos, ganha cada um pouco mais de 3 mil reais por mês, ainda com direito ao almoço, vieram duas cunhadas que também logo se empregaram com salários mais ou menos iguais. Alugaram uma casa de dois quartos demais dependências e até garagem, o aluguel não é muito caro, mas no outono inverno tem que usar o aquecimento aí a coisa aumenta, mas dividido por quatro tudo segue. A mulher de André, ainda ficou com um bar onde faz limpeza duas vezes por semana lhe dá mensalmente 600 reais, André de segunda a quinta, antes de ir para o trabalho, entrega panfletos de propaganda de casa em casa, ganha seus 400 reais, com esse dinheiro, aproveitando as promoções nas empresas aéreas podem-se dar ao luxo de ir alguns fins de semana para Paris, Lisboa, Madrid ou Londres. Também juntam algum para ir ao Brasil nas férias. Como diz André, eu que nem podia passar um fim de semana em Curitiba. Também comprou um carro, Fiesta 93 e pagou 1.800 reais, a gasolina é cara, mas levam alguns colegas para o trabalho e assim vai dando. Mais um detalhe, não precisam seguro saúde, o sistema é ótimo e inteiramente grátis. Essa é a situação de todos que querem trabalhar dentro das regras, na Europa não tem lugar para os “malandros demais”, logo quebram a cara e caem no descrédito.
Nosso papo, com muita caipirinha e cerveja, era sobre as lembranças do Brasil, contávamos, como sói, piadas obscenas. Havia um certo ar de despedida, já que Feltrin depois de quatro, estava indo embora, cansara-se de ser babá de brasileiros, ele tem já 60 anos e não é muito fácil arrumar trabalho, mas o fator importante é que o filho, a filha e o genro estão morando nos Estados Unidos legalmente, com o “green card”. Compraram uma casa em Bostom, três andares e piscina. A filha tem uma empresa de limpeza com mais de 60 empregadas e o genro uma pequena construtora onde o filho trabalha. Feltrim trabalhará com ele e sua mulher com a enteada.
No ar pairava uma certa tristeza, algo com gosto de fim de festa, pensei inicialmente que fosse pela ida próxima de Feltrin, mas no desenvolver da conversa, notei que o fator não era bem esse. No ano passado estavam todos animados pois parecia que o Brasil apresentaria mudanças nas eleições, mas esse ano como mostram as pesquisas Lula será eleito no primeiro turno.
A mágoa do dia 7 de setembro ficou por conta do fato que todos puderam constatar algo inimaginável: a esperança do Brasil agora é que ainda consiga piorar mais.
Até quando?


Editado por Giulio Sanmartini   às   9/10/2006 07:16:00 AM      |