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SEM POVO NÃO HÁ ELEIÇÃO
Por Villas-Bôas Corrêa no Jornal do Brasil
A campanha eleitoral, de cambulhada com o Congresso, atolou num brejo de lama podre de escândalos, do qual ela não sairá sem a colaboração consensual dos candidatos a presidente e dos líderes dos principais partidos.
É natural que a temperatura dispare na excitação da caça ao voto, cada vez mais esquivo e desconfiado com a sucessão escabrosa das denúncias de corrupção, as listas dos envolvidos em trapaças repulsivas, como a da quadrilha especializada na compra de ambulâncias, ônibus escolares e demais bugigangas, que estão sendo apuradas e expostas pela CPI dos Sanguessugas.
Certamente não há espaço para um acórdão suprapartidário para estancar o esguicho do esgoto do festival da roubalheira "como nunca se viu na história deste país".
Mas, há um limite que não deve ser ultrapassado. As setas envenenadas dos desaforos que cruzam os ares no áspero bate-boca entre o presidente-candidato Lula e o senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB - a sigla tucana do candidato de oposição, Geraldo Alkmin - mal comparando, parece um final de campeonato para provar quem é mais desonesto: se o governo ou os seus adversários.
Ora, nenhum partido está saindo com a reputação imaculada do pântano em que chafurdam o Legislativo e o Executivo. E, afinal, o senador tucano lançou no debate a advertência de que "os escândalos contaminaram o processo eleitoral totalmente e, se continuar assim, poderemos entrar numa crise institucional".
Estamos perto, senador, muito perto. Portanto, não podemos perder a hora de encontrar uma saída, ainda que estreita e de difícil acesso. E esta só pode ser achada com a mobilização da sociedade. Não há campanha nem eleição sem o povo, o grande esquecido na algazarra da altercação no nível da turma do baixo clero.
E é sobre o Congresso em perigo, na corda bamba da desmoralização, que deve ser concentrada a atenção da minoria responsável que escapou do dilúvio. Sozinho, o Parlamento não sai do apuro em que se meteu.
O eleitor tem que ser convocado para o centro da operação de angustiosa pressa. Com os sinais de advertência que piscam de todos os lados, não podemos sonhar com uma súbita regeneração ética dos partidos. Todos, em graus diversos, tentam salvar os companheiros fisgados pelas CPIs, pelo Conselho de Ética, pela engrenagem da Justiça, com a munheca no cofre da viúva. O PT lidera o bloco com a desfaçatez cultivada no longo aprendizado e já encaixou os seus representantes envolvidos em falcatruas na chapa dos candidatos do partido.
Se o eleitor for esclarecido, informado, cutucado na indignação, amanhecerá nas filas para o protesto consciente e lúcido de votar com a dupla preocupação de varrer do Legislativo, em todos os níveis, os envolvidos na orgia da gatunagem e, em vez da tolice do voto em branco, ajudar a eleger os que não se lambuzaram com as propinas, as safadezas do valerioduto, do caixa 2, do mensalão, dos sanguessugas e demais comparsas das gangues com mandato.
Estudantes, trabalhadores, funcionários - gente nas praças e avenidas, nas passeatas de protesto será um sinal de vida. E é uma boa idéia a farta exibição de cartazes com as fotos dos suspeitos, a lista da escória a ser posta no olho da rua, sem a menor contemplação.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/03/2006 01:24:00 AM      |