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PIOR PARA MINAS
Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa
BRASÍLIA - Fica difícil para um mineiro encontrar o mínimo defeito em Minas, terra da liberdade e da resistência. Mas existem momentos em que calar significa posicionar-se contra Minas. De propósito, por características exclusivamente mineiras, deixamos passar algum tempo até que a poeira pudesse assentar. Só que não dá para evitar o comentário: Itamar Franco não merecia o que fizeram contra ele. Pode não ter sido Minas inteira, mas não há como deixar de constatar que seus algozes foram os dirigentes do maior partido político existente no estado, o PMDB. Presume-se, então, terem garfado a maior parte do sentimento político dominante nas Gerais.
DEPOIS DO CADAFALSO, A VITÓRIA
Nos anos setenta, com o País mergulhado na ditadura, Minas buscou um nome para o sacrifício, ou seja, para dizer "não" aos ditadores, mesmo sabendo que de nada adiantaria. Ninguém quis candidatar-se ao Senado, a única eleição majoritária que restava. Itamar, jovem prefeito de Juiz de Fora, aceitou caminhar para o cadafalso. Foi eleito, contra tudo e contra todos, constituindo-se na primeira instância da reação ao arbítrio, junto com outros 16 novos senadores eleitos pelo MDB. Não cedeu, não se curvou, manteve acesa a tênue chama da volta do País à democracia. Reelegeu-se, oito anos depois.
Na primeira eleição direta para o Planalto, depois do fim do autoritarismo, acabou aceitando tornar-se companheiro de chapa de Fernando Collor, o surpreendente caçador de marajás que acabou eleito, tendo em vista a divisão dos adversários, de Lula a Brizola, de Ulysses a Mario Covas, de Roberto Freire a Paulo Maluf, a Guilherme Afif e outros. Virou vice-presidente da República, mas não se passaram quinze dias para que vibrasse críticas veementes àquela política dita de modernidade, na verdade um assalto aos direitos do trabalhador e uma ode à especulação financeira e ao domínio das elites sobre as massas.
Sobreveio a grande crise, com a defenestração de Collor, impedido pelo Congresso. Ao receber a comunicação de que deveria assumir a presidência, Itamar pronunciou: repudiava a modernidade que não levasse à população inteira os benefícios da civilização e da cultura. Apesar de ridicularizado pelos poderosos, com ênfase para a mídia elitista, foi o melhor presidente que o País teve, desde JK. Impediu aumentos de preços que beneficiavam os altos potentados. Afastou quantos auxiliares se viram acusados de falcatruas, mesmo amigos íntimos, que mandou defender-se fora do governo e, comprovados inocentes, voltassem.
TRAÍDO OUTRA VEZ
Determinou a derrocada da inflação através do Plano Real, entregando os detalhes da tarefa a FHC. Comprovou que a Previdência Social dispunha de superávit, não de déficit, através da atuação de Antônio Brito. Elegeu o sucessor, como elegeria um poste, pois ao deixar o governo tinha 85% de apoio popular.
Viu-se traído pela criatura que criara. Sem recursos, precisou aceitar embaixadas no exterior. Retornou, quando terminava o primeiro mandato de FHC. Teve seu nome lançado para retornar à presidência, mas sofreu a primeira das grandes surpresas de seu partido, sob a batuta do sucessor. Fosse candidato e venceria, por isso transformaram a convenção do PMDB num campo de batalha.
Eleito governador de Minas, contra os caciques partidários, insurgiu-se contra as privatizações desmedidas que o sociólogo promovia. Por ser contrário à farsa da reeleição, recusou candidatar-se a segundo mandato mais do que certo. Apoiou a renovação representada pela candidatura Lula, no plano federal. Diante da avalancha que expôs as entranhas do governo dito dos trabalhadores, mas dos banqueiros, Itamar teve o nome apresentado. A maioria das bases do PMDB o apoiava, mas os caciques ligados a Lula manobraram para o partido não ter candidato, acomodando-se às benesses do poder.
Aos 76 anos, imaginou encerrar a carreira onde havia iniciado: no Senado. Era candidato natural de Minas. Mas as mesmas forças canhestras do PMDB uniram-se aos detentores do poder federal, dos mesmos grupos oligarcas de sempre. Impuseram a candidatura de um adversário menor, em convenção fajuta, de votos comprados. Itamar não será candidato a senador. Foi traído outra vez, até por aqueles em que mais confiava. Não importa. Sua biografia está completa. Insere-se na galeria dos grandes mineiros, aqueles que colocaram o bem público acima de quaisquer interesses pessoais. Pior para Minas.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/03/2006 01:15:00 AM      |