Por José Inácio Werneck em Direto da Redação Quando até Ruport Murdoch se coloca contra ele, é porque George W. Bush foi longe demais. No caso, longe demais ao se recusar a reconhecer o fenômeno do aquecimento global. Não se trata de debater sua gravidade. Trata-se, como Bush já fez diversas vezes, de dizer que “não há evidência científica” sobre sua existência. Mas, afinal, este é o mesmo homem que diz não haver evidência científica sobre a Evolução das Espécies, veta projeto aprovado por seu próprio partido para pesquisas em células-tronco e, em matéria de política internacional, parece guiar-se por uma leitura ao pé da letra do que Jeová teria dito a Abraão sobre Canaã. Outro dia, pronunciando-se na Flórida, Bush afirmou que os Estados Unidos não podiam entender porque um país democrático como o Líbano admitia a existência de uma milícia, o Hezbollah. A afirmativa causou espanto, pois há nos Estados Unidos uma milícia em pleno funcionamento, os Minutemen em ação na fronteira com o México, e o governo do Iraque, fantoche da administração americana, não passa de milícias xiitas com maior ou menor ferocidade.
Mas o fenômeno do aquecimento global deverá representar nos próximos 20 anos um perigo maior do que o atual de uma guerra no Oriente Médio - pois desencadeará um número sem precedentes de refugiados - e levou o tycoon Rupert Murdoch, que controla uma galáxia de meios de comunicação na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia, a aliar-se à Clinton Foundation no combate ao problema. Foi também notável que Tony Blair, em geral totalmente subserviente a George Bush, tivesse anunciado alguns dias antes um acordo com o governador da Califórnia, o republicano Arnold Schwarzenegger, com o mesmo fim. A Fundação Clinton, que também se destaca pela luta contra a Aids, vai trabalhar com a Large Cities Climate Leadership Group, um conjunto de 20 das maiores cidades do mundo, entre as quais São Paulo, sob a liderança do prefeito de Londres, em busca de soluções. As previsões são de que, no ritmo presente, a temperatura média na Califórnia será cinco centígrados mais alta no ano 2100, aumentando a poluição atmosférica e esgotando as reservas de água no Estado, pois porá fim ao acúmulo de neve nas montanhas, principal fonte no momento. A união entre Blair e Schwarzenegger reúne dois pesos pesados. O Reino Unido tem a quarta maior economia do mundo e o estado da Califórnia a quinta. Bush, por seu lado, luta com a arma de sempre, a ignorância. Depois que James E. Hansen, cientista da NASA (a Administração Espacial Americana), lançou um alerta contra o aquecimento global, o governo Bush tentou inicialmente censurá-lo. Como não conseguiu, resolveu agir como o marido na velha piada do sofá. Por instruções da Casa Branca, a NASA retirou de seu altaneiro Mission Statement (uma definição de seus objetivos) a frase “entender e proteger o nosso planeta”. É o abandono de uma política que vem desde o National Aeronautics and Space Act, a lei que estabeleceu a NASA em 1958. Bush continua célere, mas em marcha à ré, rumo ao passado.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/03/2006 08:38:00 AM |
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