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REALIDADES
Por Fabio Grecchi na Tribuna da Imprensa
Lula lembra o famoso "Samba de uma nota só", na qual outras notas entram, mas a base é uma só. Na entrevista de anteontem ao "Jornal Nacional", se esquivou o mais que pôde ao falar dos companheiros flagrados com a boca na botija do mensalão, que como bem lembrou o apresentador William Bonner formaram uma "quadrilha", conforme palavras do procurador geral da República Antonio Fernando de Souza. O presidente fez aquilo que só lhe é possível fazer para confessar parte do erro: que todos os acusados foram afastados e que o Ministério Público, assim com a Polícia Federal, jamais trabalhou tanto e com tanta isenção em seu governo.
Desta afirmativa, apenas a segunda parte é verdadeira. No que se refere aos seus ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, relutou o mais que pôde e só o fez quando teve duas certezas: se não os tirasse, o desgaste aumentaria exponencialmente; já no caso do ex-czar da Fazenda, foi assim que percebeu que a comunidade internacional notara que a política econômica não mudaria, pois pertencia ao governo, não a Palocci.
Em relação ao restante, Lula continua sem dar uma resposta convincente. Sobre quem o teria traído, o nome permanece um dos mais bem guardados segredos de polichinelo da República. A respeito de sua conexão com Paulo Okamotto, não reconhece a dívida que tem com o PT, o que torna o presidente nacional do Sebrae uma figura maravilhosamente desprendida, capaz de tirar do próprio bolso quase R$ 30 mil para resgatar uma promissória cujo signatário não tem a menor idéia daquilo que seja.
O presidente continua certo de que confiar nas pessoas faz bem à alma e ao coração. Tanto que não se arrependeu de ter se cercado de figuras contra as quais hoje pesam gravíssimas acusações. Pelo visto, num eventual segundo mandato, manterá seu processo de escolha, por pior que se revele depois. Lula é um amigo desses que se pode contar a todo momento: permite que o traiam, que o prejudiquem, que dêem munição para uma oposição ávida em torpedeá-lo, para, quando os erros são trazidos à tona, aí sim tomar as devidas providências e afastar os infratores. Desprendimento igual se conhece apenas o de Jesus Cristo, que permitiu a Judas Iscariotes participar da última ceia e reconhecer em voz alta: "Um de vós me trairá".
Se antes, nos tempos de oposição, Lula pedia punições aos borbotões (e foi lembrado disto por Bonner, que ainda ouviu uma resposta atravessada) e falava de segurança como a coisa mais simples do mundo, agora o discurso está geograficamente mudado e ensaiado. Disse a quilometragem da fronteira seca e da costa brasileira e alegou que nem se a PF tivesse milhares de agentes a vigiá-las seria possível acabar com o tráfico de drogas e armas. Ou seja: é uma questão de dimensão, não de esforço para conter o flagelo. Também, quem mandou o Brasil ser gigantesco? Se fosse do tamanho da Bélgica, seria mais tranqüilo.
No mesmo dia, a pesquisa do Ibope dava a reeleição do presidente no primeiro turno, com queda de seu principal adversário, Geraldo Alckmin. Que o cidadão rechaça a volta de pefelistas e tucanos ao comando do País, é uma realidade já lembrada aqui esta semana. Mas que também não tem conseguido enxergar que pouco ou nada vai se alterar num segundo mandato de Lula, esta é também uma realidade.


Editado por Giulio Sanmartini   às   8/12/2006 05:43:00 AM      |