Por Carlos Chagas na Tribuna da Imprensa BRASÍLIA - Reage o Senado, esta semana, diante dos respingos que a CPI dos Sanguessugas fez cair sobre três senadores. Pode ter sido simples ação corporativista, pode ter sido indignação diante da divulgação de listas com nomes, mas sem referência a delitos. A verdade é que a unanimidade dos senadores solidariza-se com seus colegas acusados de participação no escândalo da distribuição de ambulâncias superfaturadas aos municípios. A temperatura vai subindo, com petardos senatoriais lançados para todo lado. O senador Wellington Salgado (PMDB-MG) bateu firme, sustentando que um "quarteto fantástico" domina a CPI, produzindo sem provas listas que atentam contra a honra de companheiros. Referia-se aos deputados Antônio Carlos Biscaia, presidente, Fernando Gabeira e Raul Jungmann (vice-presidentes), como também ao senador Amir Lando, relator.
Mais 2 senadores investigados Descabelado, com longas madeixas chegando aos ombros, Wellington Salgado chegou a demonstrar um certo amuo ao afirmar que Amir Lando aparece na televisão todo arrumadinho, cabelo bem penteado e cortado, pronto para avançar insinuações covardes, que atingem sem prova inúmeros parlamentares. A queixa do senador mineiro foi de que ele faz parte da CPI e que até hoje só aconteceu uma reunião, quando da instalação dos trabalhos. Não se realizou nenhuma outra, sequer uma única votação, muito menos para determinar a liberação das listas. O resto, conforme o indignado cabeludo, corre por conta do "quarteto fantástico", "ávido de ganhar espaços em função das próximas eleições". Os três senadores defendem-se desde segunda-feira, nas tribunas do plenário, nos microfones de apartes e pela imprensa. Magno Malta jura não haver apresentado uma única emenda ao orçamento relativa à distribuição de ambulâncias. Serys Slhssarenko indignou-se com acusações feitas a um genro, e Ney Suassuna disse jamais ter visto os donos da Planan, empresa envolvida no escândalo. Outros dois senadores estariam sendo investigados. Enquanto isso, o senador Romeu Tuma, corregedor do Senado, promete agir como delegado de polícia que também é, já tendo começado a ouvir os acusados. Mas enfatizou que todo mundo é inocente até que se lhe prove a culpa. Enfraquecer o Congresso? Um rumor começa a ser ouvido nos corredores do Congresso, sabe-se lá se como reação corporativa às investigações sobre o escândalo dos sanguessugas ou como preocupação real por parte dos que costumam olhar mais adiante. Tanto faz, pois cada vez mais parlamentares supõem a existência de uma conspiração para desmoralizar o Poder Legislativo. A pergunta, então, é a quem interessa o crime. Se algum grupo pretende desmoralizar o Congresso, só pode ser para isolá-lo, torná-lo irrelevante ou até fechá-lo. Fica difícil imaginar que se pretenda restabelecer a ditadura. Inexistem forças capazes de tanto. Nem se pense nos militares, que cumprem suas funções constitucionais, sacrificam-se e até engolem sapos em posição de sentido. Também não dá para acreditar que o Poder Executivo se encontre por trás da trama. O governo faz o que quer, em matéria de leis, desde que foram inventadas as medidas provisórias. Não é o Congresso que atrapalha sua performance. A sociedade civil? Menos ainda. Sem Congresso é que sofrem entidades como a Ordem dos Advogados do Brasil, os partidos políticos, as associações de classe e congêneres. Estenda-se o raciocínio para os sindicatos, as religiões, as ONGs e até os clubes de futebol. Partiria do empresariado essa conspiração, tendo em vista que as CPIs têm cumprido o seu papel, investigando e contendo os excessos do poder econômico? Parece impossível, porque o passaporte para negócios escusos é utilizado precisamente pelos maus parlamentares. Sem eles não aconteceriam escândalos como o dos sanguessugas, tornando-se mais arriscado tentar corromper apenas funcionários do Executivo. A resposta, assim, ainda não pode ser elaborada, mas, se há quem pretenda desmoralizar o Congresso, é bom tomar cuidado. Seria loucura supor o crime organizado, o narcotráfico, o PCC e sucedâneos, mas, por via das dúvidas, o Congresso deve cuidar logo de reformar as leis penais e encontrar mecanismos para sustar a ação da bandidagem...
Editado por Giulio Sanmartini às 8/05/2006 04:17:00 AM |
|