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"CONGRESSO É UM BALCÃO DE NEGÓCIOS"
Por Angélica Santa Cruz no Jornal da Tarde
Darci Vedoin, o criador da máfia das ambulâncias, se considera um típico empresário brasileiro, a diferença é que foi descoberto
Darci José Vedoin é o patriarca do clã acusado de comprar 12% do Congresso. À luz das leis e das próprias confissões, é um corruptor que colocou no bolso pelo menos 72 parlamentares, 25 ex-deputados, 60 prefeitos e 19 funcionários públicos. Na última segunda-feira, recebeu o JT no apartamento de sua filha, Alessandra, em Cuiabá. Sob a condição de não entrar nos detalhes do processo que investiga a máfia dos sanguessugas que ajudou a montar, contou a história de sua família e defendeu a tese de que é apenas um típico empresário brasileiro obrigado a abrir o item “pagamento de propina” nas planilhas de seus negócios.
Ele tem 61 anos, é um sujeito simpático, que fala com sotaque gaúcho carregado. É católico praticante, casado há 37 anos. Torce pelo Grêmio e fica com os olhos marejados quando fala frases como “eu tenho um coração que ninguém imagina”.
Em maio, Darci foi algemado e mandado para uma cela em Cuiabá junto com toda a família: a mulher, Cléa, os filhos, Luiz Antônio e Alessandra, a nora, Helen, e o genro, Ivo Marcelo. Depois de quase 2 meses de cadeia, os Vedoin aderiram à delação premiada e começaram a contar como montaram o esquema dos sanguessugas. Em poucos dias, Darci passou de empresário respeitado a um chefe de máfia reconhecido nas ruas. Mas, do seu ponto de vista, a diferença entre sua família e a dos outros empresários do País é apenas uma: ela foi descoberta.
Darci trata o pagamento de propinas como uma espécie de pedágio para sobreviver no mundo empresarial, diz que nunca procurou nenhum político para isso (“Eles é que vieram atrás de nós, todos eles!”) e até ensaia uma função social para o esquema que montou. “É mentira que as ambulâncias eram superfaturadas e fajutas. Nossa empresa trabalhava em prol dos pequenos municípios, mas no Congresso as coisas funcionam assim... ”, afirma.
Darci Vedoin nasceu em Silveira Martins, no Rio Grande do Sul. Começou a vida de negociante vendendo máquinas de lavar batatas. Casou com a conterrânea Cléa Maria, teve dois filhos. Em 1978, quando tinha 33 anos, foi para Mato Grosso no rastro da expansão da produção agrícola. Em Cuiabá, trabalhou por 10 anos na Companhia Riograndense de Adubos (CRA). Quando saiu da CRA, Darci usou o FGTS para abrir um posto de gasolina e um restaurante.
Em 1993, quando o caçula Luiz Antônio completou 17 anos, resolveu emancipá-lo para abrir em seu nome a Planam, a princípio uma consultoria que cuidava dos interesses de prefeituras em Cuiabá e Brasília. Entre as atribuições da empresa estava a de comprar ambulâncias para os municípios. “Com o tempo, os fornecedores começaram a dar problemas. Pediam dinheiro adiantado, demoravam para entregar”, conta Darci. Em 2000, Luiz Antônio disse ao pai: “ Vamos fazer as ambulâncias nós mesmos.” Os Vedoin alugaram um galpão e começaram a adaptar carros. O negócio foi absorvendo a família inteira.
Segundo Darci, a distribuição de propinas entrou para os negócios da Planam em 1999, por um acaso. “Foi a troca de malas”, diz. No aeroporto de Cuiabá, Darci pegou por engano a bagagem do deputado Lino Rossi (PP-MT). Quando foi desfazer o engano, marcou um encontro para mostrar um plano de venda de ambulâncias. O esquema começou e, nos 7 anos seguintes, chegou a quase 600 prefeituras.
Uma semana antes de ser preso, Darci recebeu um telefonema de Luiz Antônio. “Ele me disse: ‘pai, não podemos mais fazer ambulâncias. Não está dando lucro. A Polícia Federal tem isso, porque gravou nossas conversas.’ A gente ia sair”, conta. Hoje, o patriarca da família sanguessuga se defende como pode: “Basta mandar uma pessoa ficar duas horas no Congresso Nacional. Lá é um grande balcão de negócios. Agora mesmo tem alguém lá, fazendo a mesma coisa.



Editado por Giulio Sanmartini   às   8/14/2006 05:01:00 AM      |