Por Onofre Ribeiro Em todas as eleições historicamente as coligações não fecham completamente os interesses setoriais que coexistem dentro dos partidos políticos. É uma velha prática brasileira que nasceu na época do regime militar quando se inventaram as chamadas sublegendas. Trago o assunto diante dos descontentamentos e das traições que estão minando as coligações, na tentativa desesperada de candidatos a senador e a deputados federais e estaduais de sobreviverem.Compreender isso implica em compreender um pouco da estória das sublegendas, que relato a seguir. Com o advento do bipartidarismo (Arena e MDB), em 1967, os políticos estavam limitados a uma verdadeira camisa-de-força e submissos aos poderosos de então que podiam cassar mandatos eletivos e suspender direitos políticos. Na Arena, acotovelaram-se especialmente os ex-pessedistas e os ex-udenistas, enquanto no MDB tiveram de se acomodar os ex-petebistas e os líderes dos chamados partidos de esquerda, o PCB e o PSB.
Com o bipartidarismo foi criada, em 1968, a sublegenda, um mecanismo artificial que permitia a apresentação nas eleições majoritárias para o Senado e para prefeitos, de até três candidatos por partido. Isso significava que de dois os partidos poderiam se transformar em seis. Essa engenhosa forma era simplesmente cínica e deplorável. Os partidos com o uso das sublegendas fragmentaram-se totalmente, a ponto de possibilitar que, numa eleição para prefeito, um candidato, embora tivesse sido o mais votado, perdesse o pleito para postulante de outro partido em que a soma das sublegendas ultrapassasse os votos das sublegendas da agremiação adversária. Hoje isso ainda existe disfarçado dentro das coligações. E dentro delas, surge o jogo dos interesses individuais sobrepondo-se ao partidário e coletivo. É que se vê na atual eleição no nível estadual. Alguns exemplos estão evidentes dentro da coligação Mato Grosso mais Forte e Justo, comandada pelo PPS que detém a candidatura majoritária de governador e pleiteia a reeleição de Blairo Maggi. O PFL, um dos coligados, detém a candidatura de senador, disputada por Jaime Campos. Nos bastidores o que se vê são tendências caminhando em direções opostas. O PFL e o PL, principalmente, lideram essa caminhada, pedindo votos para seus candidatos a proporcionais e deixando em branco a candidatura do governador pela coligação. Mas há também casos em que a maioria dos candidatos a proporcionais pedem voto para si e não se importam com o restante da chapa. Apesar da verticalização ter imposto a ordem de coligações de cima para baixo, a fidelidade dos coligados é uma questão de ética parlamentar. Mas em tempos de baixa ética, a conduta acaba sendo a de traições e individualismos. A fragilidade das candidaturas proporcionais é gritante depois dos recentes escândalos no Congresso nacional. Isso mais a inesperada elevação do custo previsto das campanhas, a tendência é o desespero bater no correr dessas seis semanas, e as traições se multiplicarem por mil. Mas isso é coisa para as cúpulas partidárias resolverem, sob pena de se cometer um genocídio político nunca visto antes.
Editado por Giulio Sanmartini às 8/12/2006 05:47:00 AM |
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