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PATETICISMO ARLEQUIM
Por Geraldo Almendra

Enquanto nos países mais desenvolvidos o talento esportivo abre as portas para uma melhor educação para os jovens, no nosso país este talento rende nos treinos das escolinhas um “prato de comida” para milhares de crianças e adolescentes, que vêem no futebol uma saída para se livrarem da pobreza, da miséria e do abandono, por serem vítimas sistemáticas dos corruptos e incompetentes desgovernos que teimam em tentar destruir o Estado Democrático de Direito Social em nosso país.Foi de um pateticismo arlequim, a solidariedade do presidente da República com a cartolagem, o vexame da apatia, a falta de atitude, a falta de seriedade dos ricos jogadores – mercenários da legião estrangeira do futebol – de nossa seleção, e com a ausência de liderança do seu técnico e de competência de seus apaniguados que formam a comissão técnica, que não cumpriram com a sua obrigação de se mostrarem profissionais exemplares na luta pela vitória de nossa seleção.
O time brasileiro, pago com o dinheiro dos torcedores, deu uma vergonhosa demonstração de ausência de compromisso com os valores fundamentais que devem reger o comportamento de atletas do futebol que têm a responsabilidade de cumprir com o seu papel diante de um povo que percebe nesse esporte um dos seus poucos motivos de alegria.
Apesar disso recebem uma grande demonstração de solidariedade do presidente. É a politicagem espúria se associando com a cartolagem do futebol.
As pessoas mais esclarecidas, nem por isso necessariamente menos apaixonadas pelo futebol, sabem perfeitamente o poder desse esporte nas mãos de governantes no seu hediondo vício de manipular a vontade popular para tirar a atenção das mazelas da injustiça social, da política prostituída e da corrupção em nosso país.
Por definição o espírito esportivo precisa, compulsoriamente, se refletir em uma força de vontade de competir com seriedade, com um compromisso de luta pela supremacia do adversário, qualidades essas que todo esportista precisa apresentar durante as contendas esportivas, sem perder de vista que a vitória ou a derrota deve fazer parte do jogo e ter uma aceitação responsável dos seus ensinamentos.
No Brasil, que é dotado de raízes sociais apodrecidas pela degeneração de valores morais e éticos do poder público, e pela influência direta de um processo político absurdamente corrupto e prostituído, os objetivos da prática esportiva são subvertidos pela necessidade da vitória a qualquer preço de nossa seleção não somente pelo espírito esportivo, mas, principalmente, com finalidades de dar vazão ao descontentamento social para permitir que o povo extravase suas angústias e seu sofrimento como cidadão no samba e no carnaval que tomam conta das ruas pelas comemorações de mais um troféu ou de mais uma vitória do seu time.
No momento que uma sociedade passa a ter no futebol muito mais uma alternativa de sedução da falta de consciência crítica e de subemprego para a maioria de explorados pela cartolagem, e de vitoriosas ou milionárias carreiras para poucos talentos, fundem-se o mercantilismo e a manipulação da injustiça social que passa a ter no futebol uma válvula de escape para os abandonados pelo Estado nas ruas dos guetos residenciais, que jogam suas peladas sonhando substituir a inviabilidade do caminho para a educação por uma oportunidade de ficar “rico no futebol”.
Um elevado grau de cultura social e esportiva deve encarar uma derrota com controle emocional e espírito esportivo desde que os atletas tenham responsabilidade, atitude e compromisso de verdadeiros profissionais a serviço do seu país em uma disputa de Copa do Mundo.
O que vimos nos atletas brasileiros e no seu técnico na derrota para a França não foi bem isso. Presenciamos um vergonhoso comportamento contrário aos princípios do esporte e que, de um lado, demonstra a necessidade de acabar com a cartolagem que está destruindo o melhor futebol do mundo e, de outro, preserva a sociedade – que vive o seu pior momento político das últimas décadas – de mais uma manipulação da desesperança do povo pelo príncipe da prostituição da política, para desviar a atenção dos milhões de eleitores comprados com a bolsa-família-preservação-da-pobreza do mar de lama da corrupção, da falta de ética e da imoralidade do desgoverno petista.


Editado por Adriana   às   7/04/2006 09:14:00 AM      |