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HAVERÁ SEGUNDO TURNO, POR ISSO NÃO SEJAM INCOMPETENTES...
Por Paulo G. M. de Moura

Para o observador atento, o jogo eleitoral já mudou. O quadro fictício de invencibilidade de Lula, que permitiu, à mídia chapa-branca, prenunciar a ilusão da vitória de Lula, no primeiro turno, já não existe mais. O Palácio do Planalto jogou todas as suas fichas na criação de um cenário artificial, de supremacia absoluta de Lula, e na construção da percepção da iminência da sua vitória. Mas não conseguiu o que queria, com isso.
O objetivo número um de Lula era o de abrir uma dianteira incontestável nas pesquisas, suficiente para não deixar dúvidas de sua vitória em primeiro turno. Não conseguiu.
O objetivo número dois de Lula era o de ter um peemedebista com vice e, conseqüentemente,garantir os palanques e o tempo de TV do PMDB, jogando a seu favor. Não conseguiu.
O objetivo número três de Lula era o de garantir a subserviência do PSB, aos interesses do PT, submetendo-o ao risco de sucumbir à cláusula de desempenho apenas para apoiar a duvidosa reeleição. Não conseguiu.
O objetivo número quatro de Lula era o de garantir a subserviência do PCdoB aos interesses do PT, submetendo-o ao risco de sucumbir à cláusula de desempenho, apenas para apoiar a duvidosa reeleição. Tudo indica que não vai conseguir.
A repetição da chapa Lula/Alencar, portanto, corresponde à última e menos desejada opção dos petistas. O polêmico e controvertido vice de Lula, José Alencar passou três quartas partes do seu mandato, criticando a taxa de juros do seu próprio governo. Recentemente, calou-se, para garantir seu lugar na chapa de Lula. E conseguiu. Alencar faz votos em Minas Gerais e está na sigla controlada pelo bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus. O PRB, seu partideco, agrega, apenas, alguns segundos, ao tempo de TV do PT.
A cláusula de desempenho, portanto, mostrou-se desfavorável ao PT, não pela lei em si, mas por que o PT é um partido arrogante e hegemonista, que não admite abrir mão da cabeça de chapa, nos Estados, para garantir a reeleição de Lula. Ainda que PCdoB e PSB possam ter, como destino, a condição de novas tendências do PT, após essa eleição, a adesão, à legenda lulista, precisa ser feita a partir da maior força que esses dois partidos puderem colher nas urnas, sob pena de não conseguirem enfrentar a burocracia, que já se encastelou, nos organismos da máquina que serve aos interesses de Lula.
Isso sem falar no fato de que o PSB, com candidaturas próprias nos estados, talvez sobreviva à cláusula de desempenho.
Lula, sob essas circunstâncias, parte, isolado, para a empreitada reeleitoral. E isso não se deve, apenas, à arrogância petista. Nenhum partido sério quer se coligar ao PT, porque o petismo é portador de uma doença infecto-contagiosa, que pode matar, nas urnas, aqueles que dele se aproximarem. O germe da corrupção deixou o petismo com uma cicatriz indelével no rosto. Isso vai puxar Lula para baixo, a partir da próxima fase da eleição, quando o tiroteio da oposição começar.
Embora tendo que administrar problemas na composição de seus palanques regionais, o fato é que a candidatura de Geraldo Alckmin foi mais bem sucedida, na empreitada de formar coligações e alianças regionais. Seus palanques serão mais sólidos e Geraldo Alckmin deverá ter cerca de nove minutos de TV, contra seis de Lula, se o PCdoB não se coligar, formalmente, ao PT.
A doença infecto-contagiosa a que me refiro, causou outro sério revés a Lula O PT não tem, mais, aquela militância convicta, que se jogava às ruas, para defender seus candidatos. O que sobrou, ao PT, agora, é um exército de mercenários, em luta para garantir os empregos e o acesso aos cofres públicos. Não existe quem defenda corruptos, por convicção. Os petistas remanescentes estão calados, resignados e defensivos. Muitos anularão o voto outros votarão em Heloísa Helena. Creio que, no silêncio das urnas, boa parte dos petistas remanescentes negarão o voto ao partido do mensalão.
Geraldo Alckmin, ao contrário, começa a reverter o quadro de inferioridade estratégica, que enfrentava, até pouco tempo atrás. Já tive a oportunidade, aqui, de mostrar que o tucano corrigiu seus erros estratégicos iniciais. Os resultados já começam a aparecer. Pesquisa Vox Populi já aponta seu crescimento em São Paulo, após sua aparição na propaganda gratuita do PSDB.
Com os roteiros pelo Sul, deve crescer em outros Estados, onde é forte, também.
A partir da próxima semana, a lei eleitoral iguala condições de disputa dos candidatos, no que diz respeito ao tratamento que a mídia deve dar aos concorrentes. Lula fará a campanha mais rica que o Brasil já viu e, concorrendo no cargo, ainda usufrui a vantagem da máquina. Mas tem o indefensável flanco da corrupção para cobrir. Quando o horário eleitoral começar, o molusco terá que explicar o inexplicável.
Lula supera Geraldo Alckmin, nas pesquisas, por uma margem que não lhe confere segurança de vitória, em primeiro turno. O lançamento da candidatura de Cristovam Buarque, pelo PDT, além de outros candidatos, um dos quais (PSC) cumprindo missão de bater em Lula, a mando de Garotinho, aliados ao crescimento previsível da candidatura tucana, praticamente, garante a realização de um segundo turno.
Sob essas circunstâncias, Geraldo Alckmin parte, para a disputa de 2006, em melhores condições do que Serra partiu, nas pesquisas de 2002. Seus patamares, nas pesquisas de hoje, se equivalem aos que Serra tinha, na eleição passada, nessa época do ano. Mas Serra carregava o governo FHC nas costas. Em 2002, Lula corria solto, sem a mácula da corrupção marcando-lhe a face. Mesmo assim, em 2002, houve segundo turno. Em 2006, também haverá.
Paulo G. M. de Moura - Cientista político


Editado por Adriana   às   7/04/2006 09:12:00 AM      |