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HOLLYWOOD NA CHINA
por Giulio Sanmartini

Sendo a mídia um meio intermediário de expressão capaz de transmitir mensagens; meios de comunicação de massas não diretamente interpessoais (Antônio Houaiss), não haverá dúvidas em afirmar que sua grande alavanca impulsora no mundo ocidental, tenha sido o advento da imprensa em 1450, o que permitiu a barateamento dos livros e por conseguinte sua grande divulgação. Mais que isso, tornou possível o aparecimento de periódicos com grande circulação.
O segundo grande marco foi o aparecimento do cinema, inventado pelos irmãos Auguste (1862/1954) e Louis (1864/1948) Lumière, com a primeira apresentação de um filme em dezembro de 1895, Grand Café, onde, por um minuto aparecia um dos Lumière dando de comer ao filho.
Os Estados Unidos logo perceberam que esse novo tipo de entretenimento era u’a máquina de fazer dinheiro e assim no bairro de Hollywood (Los Angeles), nas primeiras décadas do século XX começaram a surgir os grandes estúdios cinematográficos: Paramount, RKO Radio Picture, Universal, Metro Goldwin Mayer, Columbia, 20th Century Fox etc... O bairro tornou-se rapidamente o centro histórico do mundo do cinema e seu nome passou a ser sinônimo de industria cinematográfica.
Logo surgiram os astros e as estrelas de Hollywood, dirigidos por grandes diretores e participando de grandes filmes: Frank Capra (Aconteceu uma noite), Victor Fleming (...E o vento levou), John Ford (Como era verde meu vale), Michel Curtis (Casablanca), Billy Wilder (Dias perdidos), Henri Koster (O manto sagrado), Elia Kazan (Barreira invisível), Fred Zinnemann (A um passo da eternidade), Cecil B. de Mille (Os dez Mandamentos), Wllian Wyler (Bem Hur), Jerome Robbins (West side story), Joseph Mankiewicz (Cleópatra), Francis Ford Coppola (O padrinho), Woody Allen (Eu e Ana).
Artistas europeus também não resistiram ao fascínio e ao dinheiro de Hollywood e foram para lá filmar: Antonio Banderas, Greta Garbo, Ingird Bergman, Marcello Mastroiani, Marlene Dietrich, Richar Burton, Sean Connery, Sofia Loren, só para citar os mais conhecidos.
O cinema na Itália começou com a primeira sala de projeções em Turim (1896), depois começou a produzir seus próprios filmes até que o regime fascistas, com objetivos de propaganda do governo, resolveu fazer sua Hollywood, a Cinecittà. Passada a Segunda Guerra Mundial tomou grande impulso com o cinema neo-realista de Roberto Rossellino (Roma cidade aberta – 1946), Luchino Visconti (A Treme – 1948) e Vittorio De Sica (O ladrão de bicicletas – 1948)
Passada essa fase vieram os grandes diretores: Federico Fellini, Pietro Germi, Mario Monicelli e Pier-Paolo Passolini. Não se pode esquecer dos sapaghetti-western, inicialmente olhados com desconfiança pelos puristas, mas que se firmaram como um marco na cinematografia mundial. Teve seu grande diretor em Sergio Leone, com as trilhas sonoras de Enrico Moricone e lançando para a fama Clint Eastwood. Daí para frente, salvo raras e honrosas exceções, caiu para as porno chanchadas de Lando Buzzanca e para as chanchadas sem porno, de tristes comediantes.
Fora esse eixo América – Europa, existe a maior indústria cinematográfica do mundo num local que foi batizado de Bollywood, nome formado pela junção de Bombay (cidade onde está localizada) e a significativa Hollywodd, poucos acidentais assistiram a um filme indiano, constituem um enigma para os cinéfilos, profissionais e críticos que não sejam locais. Produz 880 filmes por ano apara um público de 2,8 bilhões de espectadores. Acredita-se que sua produção seja maior que toda a somada no mundo , incluindo-se talvez também a China (Hong Kong).
Nessa febre de progresso que assola a China também surgiu sua Hollywood. Ainda não se sabe bem quais serão os resultados a longo prazo, as novidades por lá nem sempre dão certo. Em 1958, desejando demonstrar ao mundo que havia encontrado uma fórmula fantástica e rápida para tirar o pai do atraso, Mao-Tsetung, deu início ao que chamou o “Grande Salto para frente”, os resultados foram desastrosos, uma grande fome que levou até ao canibalismo, deixando um rastro de 65 milhões de mortos. Depois veio a “Revolução cultural”, que além da violência levou o país a um retrocesso. Agora adotou-se uma economia de mercado, que pretende misturar capitalismo com comunismo. As grandes cidades chinesas construídas do dia para noite, querem ser iguais às acidentais, e arquitetonicamente o são, todavia o sistema de vida é o mesmo das cidades ocidentais de 50 anos atrás. No plano da Astronáutica também lançou com recursos e tecnologia próprios o seu astronauta em 2205, só que cientificamente nada foi acrescentado ao que trouxe Yuri Gagarin 44 anos antes.
A história da Hollywood chinesa começou há 15 anos, em pequenos vilarejos perto de Shangay. Lá vivia Wen Jide e tinha 60 anos, trabalhava sua pouca terra e conseguia a duras penas ter para ele e a família tão somente três cuias de arroz por dia. Foi quando chegou ao local Xu Wenrong, ele também fora camponês, mas depois das reformas com visão, sorte e coragem partiu para os negócios. Em pouco tempo tornou-se dono de confecções, industrias eletrônicas e químicas. Este pensou: “ Por que não construir nossa Hollywood, a Hollywood da China? O cinema tem ótimas perspectivas, vamos em frente.” Com esse pensamento apresentou-se a Wen Jide propondo-lhe que lhe desse sua terra e receberia em troca a possibilidade de trabalhar no cinema.
Xu investiu no projeto 400 milhões de dólares e em 1996 rodou o primeiro filme “AGuerra do ópio”. A cidade do cinema recebeu o nome de Hegdian, nela vivem do cinema 100 mil pessoas.
Wen Jide, não passou a ser um grande ator, é um simples figurante que ganha 2,5 dólares por dia (em Hollywood paga-se pelo mesmo trabalho 100 dólares), mas na China é uma importância que um lavrador nem nos sonhos a pensa, ele consegue economizar 700 dólares por ano.
A superfície de Hegdian 25 km² e duas vezes a de Hollywood. Lá foram construídas em escala 1:1 todas as maravilhas da China. Os números são impressionantes. Foram levantados 6.958 sets, que em 10 anos produziram 200 séries televisivas com 4 milhões de episódios. Em 2005, três milhões de visitantes pagaram 5 dólares por cabeça para ver de perto o nascimento de um filme.
John Ford dizia que Hollywood não era um lugar físico, mas um estado mental. Da mesma forma Hengdiab é também é um estado mental. Arte, espetáculo, divertimento loucura, genialidade, fantasia e negócios. É onde um verdadeiro camponês, se vê representando um falso camponês.
Só resta ver se esse novo salto para a frente dará realmente certo.



Editado por Giulio Sanmartini   às   7/12/2006 12:37:00 PM      |