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OPERAÇÃO PORTE-PAGO
por Dora Kramer em O Estado de São Paulo

A negociação assumida e francamente fisiológica que resultou no apoio explícito de parte do PMDB à candidatura do presidente Luiz Inácio da Silva em troca, numa primeira fase, da presidência e de diretorias dos Correios, além de duas vagas no comando da campanha à reeleição, não conta com a concordância de auxiliares diretos do presidente.
Pelo menos dois deles, o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro, e o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, manifestaram sua discordância a interlocutores do próprio PMDB que, por sua vez, também repudiam os termos e a forma do acerto.
É essa divergência que está na raiz da declaração de apoio à candidatura de Geraldo Alckmin feita ontem à tarde pelo presidente do PMDB, deputado Michel Temer.
Do lado do governo, a avaliação dos "contra" é a de que o acordo é imprudente do ponto de vista eleitoral, pois afronta a opinião pública e abre espaço para uma reaproximação de Lula da memória do escândalo do mensalão, cuja origem foi exatamente uma briga na repartição fisiológica dos cargos nos Correios.
Sob o aspecto político, observa-se no Planalto o risco de o acerto se revelar improdutivo, pois privilegia exatamente a mesma ala de sempre, sem a inclusão do grupo oposicionista até então disposto a se aliar ao governo, seja por circunstâncias locais na eleição, seja por desejo de participar do loteamento partidário da máquina administrativa.
Mais uma vez o presidente Lula teria, por essa análise, insistido numa fórmula que não deu certo ao longo de seus quatro anos de mandato para obter o apoio do PMDB: conferido exclusividade de interlocução à dupla de senadores Renan Calheiros e José Sarney, acreditando na capacidade de ambos de aglutinar o partido.
O caminho adotado já se mostrou contraproducente no momento em que foram feitos os convites para o encontro do presidente segunda-feira à noite com um grupo de pemedebistas, Renan e Sarney à frente, para formalizar o apoio. Consultados pelo telefone, os oposicionistas quase-adesistas, recusaram.
Não foram ao jantar na Granja do Torto por dois motivos: primeiro, perceberam que serviriam apenas como "moldura" para Renan, Sarney e companhia apresentarem ao presidente credenciais (falsas) de promotores da unidade e, segundo, porque concluíram que o desgaste eleitoral de uma negociação feita assim em termos tão explícitos de barganha não valeria o preço de se submeter ao comando da dupla de senadores e seus companheiros de sempre, todos muito pouco dispostos a abrir espaço para os que estavam chegando.
Nesse caso, o custo de se associar à já denominada operação porte-pago (uma referência à negociação ter sido feita em função da cessão de cargos nos Correios) não pagaria o benefício que se avizinhava pífio do apoio ao presidente.
O que boa parte desses oposicionistas quase-adesistas se pergunta é qual a razão de Lula aceitar acordo tão evidentemente nefasto do ponto de vista da opinião pública, e que faz dele, senão o único, com certeza o maior prejudicado.
Para os caciques pemedebistas, a negociata só pode render vantagens, dado o montante de recursos (R$ 90 milhões) nos Correios para gastos em publicidade. Para o presidente da República, porém, só haveria desvantagem em virtude do prejuízo moral.
Se Lula, contrariando a opinião de conselheiros, acreditou que poderia tratar com o PMDB sem ampliar o espectro de conversas, teve a prova do equívoco na manifestação de Michel Temer em apoio a Alckmin depois de o PMDB paulista já ter anunciado a decisão de ficar neutro. Dificilmente Temer tomou tal decisão antes de conversar muito bem conversado com Orestes Quércia.



Editado por Giulio Sanmartini   às   7/12/2006 08:38:00 AM      |