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LIVROS
Por Ralph J. Hofmann

De ontem para hoje, trocando e-mails com alguns amigos, descendentes de alemães, de Santa Cruz do Sul, sugeri alguns romances sobre os alemães gaúchos. Sugeri “Videiras de Cristal” do Assis Brasil, que realmente revela muito sobre as influências culturais dos primeiros colonos, os que desbravaram as picadas subindo a serra, assim como dois livros do Josué Guimarães.
De repente me dei conta de que meus amigos terão de encontrar esses livros. Tenho certeza de que “Videiras” ainda se encontra nas livrarias, mas quanto aos livros “Um tempo de Guerra” e “A Ferro e Fogo” do Josué Guimarães tenho minhas dúvidas. Mas tenho razoável certeza de que poucas bibliotecas públicas, mesmo no Rio Grande do Sul, de cuja história estes livros tratam, não será fácil encontrar estes livros.
Acabamos de ver alguns artigos falando do analfabetismo funcional do brasileiro. Ou seja, as pessoas sabem ler, mas não entendem o que lêem. O primeiro mandatário parece ser assim. As pessoas não vêem nos livros algo feito para dar conforto. Vêem os livros apenas como fonte de informações. No entanto livros agradáveis, relatando coisas interessantes como uma expedição do Amyr Klink, ou romances, leves como um policial ou mais densos com alguma obra do Umberto Eco, nos ensinam a absorver informações. Dão-nos uma noção intuitiva da gramática da língua mais do que qualquer ensino de análise gramatical. E nos divertem.
Acho que o maior mérito do nosso “imortal gaúcho, Moacir Scliar está na forma em que ele descreve sua vida com os livros”. Num país com uma relação preponderantemente superficial com a palavra escrita, em que as pessoas passam muito tempo vendo novelas com tramas mal urdidas e ilógicas, mas com atores e atrizes talentosos, dirigidas por diretores hábeis em cenários maravilhosos ele tem sido o embaixador do livro. Não dá sermões. Descreve sua relação pessoal com os livros, de uma forma simples, sem complicações, afetuosa.
Nos anos 30 do século passado meus pais mantinham um posto de trocas numa aldeia de nativos Basuto na savana africana. Minha mãe, recém casada precisava dirigir 200 quilômetros através do “bushveld” africano para conversar com outra mulher branca. Era uma vida afastada de tudo e todos. Contudo, a cada duas semanas passava um caminhão com uma biblioteca móvel. Por poucos pennies podia-se alugar cinco ou seis livros, “bestsellers” atuais, os mesmos que estariam sendo lidos em Londres ou Nova Iorque. Havia livros para qualquer tipo de interesse, desde viagens e arqueologia, biografias e autobiografias, todo tipo de romance, de suspense até histórico, clássicos, coisas para qualquer gosto.
Aqui no Brasil, lembro-me de ver uma caixa de livros do SESI circulando na indústria em que meu pai era executivo. Também era uma biblioteca circulante. Mas não me recordo de ver a caixa circulando na fábrica, apenas nos escritórios. Mas o que lembro é que essencialmente eram livros considerados “boas influencias”. Nada do tipo de livro em que o sujeito começa a ler a orelha e não consegue largar. Eu diria que livros edificantes são excelentes, mas na maioria dos casos não servem para alimentar o hábito da leitura, para criar um verdadeiro vício de leitura. Deve haver uma boa mistura, livros empolgantes para fazer a pessoa ler fluidamente e livros sérios para quem tenha essas aptidões, ou para as pessoas que já não se assustem com leituras.
Este é um país que consegue fazer coisas incríveis. Em poucos anos erradicou o pólio. Há estruturas de voluntariado para enfrentar grandes desastres como inundações. A criação de uma estrutura de voluntariado para levar livros que combatam a cultura leviana das novelas e dos programas de TV superficiais, sem a interferência de burocratas governamentais, às várzeas e favelas do país está bem dentro das capacidades do público esclarecido.
Fica aqui a sugestão.


Editado por Adriana   às   7/11/2006 11:37:00 PM      |